Teoria que vinculava o desenvolvimento da capacidade intelectual à influência da música de Mozart foi revista e abriu espaço para outras possibilidades.
A idéia de que a música nos torna inteligentes se alastrou no início dos anos 90. Na época, a psicóloga americana Frances Rauscher, da Universidade da Califórnia, Irvine, coordenou um trabalho cujos resultados ficaram conhecidos como “efeito Mozart”. As pessoas observadas pela pesquisadora ouviram a sonata de Mozart para dois pianos e ré maior – KV 448 – durante dez minutos. Ao serem submetidas, logo em seguida, a testes de inteligência que focavam o raciocínio espacial, obtiveram resultados melhores do que as que não tinham passado pela mesma experiência ou que tinham ouvido apenas sons relaxantes. Nos Estados Unidos, os responsáveis pelas políticas educacionais receberam com euforia a descoberta publicada na revista científica Nature. Logo a música de Mozart passou a fazer parte da rotina das escolas da Flórida e os recém-nascidos do estado da Geórgia passaram a ser presenteados com CDs do músico austríaco.
Mas a febre do efeito Mozart logo encontrou a resistência de outros pesquisadores. Estudos posteriores concluíram que os benefícios cognitivos obtidos após o contato com a música eram, na verdade, temporários e se limitavam à capacidade de projeção espacial. Não se podia falar em um aumento geral da inteligência! Além disso, ficava cada vez mais claro que o efeito não estava atrelado exclusivamente à música clássica e menos ainda a Mozart em especial. Ao lado de Schubert e Bach, músicas pop e mesmo a leitura em voz alta de uma emocionante história de Stephen King também funcionavam tão bem quanto ou até melhor: na verdade, o resultado dependia da preferência individual de cada participante! Aparentemente, as pessoas pesquisadas só solucionavam as atividades do teste com mais facilidade quando os estímulos os inspiravam intelectualmente e os deixavam de bom humor.
Para a discussão sobre o efeito da música sobre a capacidade intelectual, deve-se diferenciar entre a audição passiva de música e a atividade musical ativa. A maioria dos estudos sobre o tema “produção musical e inteligência”, infelizmente, deixa um pouco a desejar em termos metodológicos. Alguns resultados conclusivos foram fornecidos, entre outros, pelo psicólogo canadense Glenn Schellenberg: por volta de 2004, o cientista da Universidade de Toronto acompanhou o desenvolvimento de 144 alunos do primeiro ano fundamental que durante meses tiveram aulas de piano ou de canto e de teatro ou não tiveram nenhum estímulo extra-escolar. Realmente, à medida que o tempo passava, mais os alunos produtores de música conseguiam uma vantagem intelectual em relação a seus colegas: porém, após oito meses, essa vantagem era em média de três pontos de QI – no entanto, às vezes essa grandeza corresponde à variação de valores que ocorre até com a mesma pessoa. No mesmo período, as crianças do grupo de teatro – diferentemente de todos os outros alunos – expandiram claramente sua capacidade social.
O próprio Schellenberg observou, em um estudo mais recente, que uma vantagem intelectual bastante tênue adquirida pelo aprendizado de música na infância se mantém possivelmente até a idade adulta. Mas em vista do esforço necessário para obter esse resultado, o aprendizado de música não pode ser visto como caminho rápido e fácil para o aumento da capacidade intelectual. Na verdade, provavelmente não apenas aulas de música, mas qualquer aula extra, de maneira geral, tem efeito positivo sobre o desenvolvimento cognitivo.
Em resumo, estímulo é bom, mas quem não toca um instrumento musical não fica automaticamente atrás dos outros. O que é uma boa notícia para os que não têm aptidão musical. Assim, o desenvolvimento das crianças pode ser incentivado também por meio de estudos de física, literatura ou um idioma, de forma que sejam respeitadas as preferências de cada um.
Fonte: http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/nem_so_de_mozart_depende_nossa_inteligencia.html
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