segunda-feira, 28 de junho de 2010

Botox limita habilidade de sentir emoções, e não só de expressá-las


Só a expressão facial de uma pessoa já pode influenciar suas próprias experiências emocionais. Por isso, alguém com habilidade muscular limitada para fazer todo tipo de expressão facial, por causa do uso de Botox, também pode ter uma habilidade limitada para sentir emoções. O raciocínio é de Joshua Davis, psicólogo do Barnard College em Nova York.

A toxina botulínica, suavizador de rugas mais conhecido pela marca Botox, é produzida por uma bactéria, responsável pela paralisia muscular associada ao botulismo, uma intoxicação alimentar. Ao ser injetado em pequenas doses, o botox bloqueia a liberação de células nervosas que provocam contração muscular.

"Com Botox, a pessoa tem menos movimento nos músculos faciais injetados, e consequentemente menos feedback para o cérebro sobre sua expressividade facial", afirma Davis ao site LiveScience.

Davis e seu colega Ann Senghas apresentaram imagens emocionalmente fortes a um grupo de pessoas antes e depois de receberem injeções de Botox. Eles "demonstraram em média uma significativa queda na intensidade da experiência emocional [na comparação com o grupo controle]", escreveram em artigo publicado na revista científica "Emotion".

Fonte: G1

sábado, 26 de junho de 2010

Anticorpos e reparação de nervos




Agência FAPESP – Anticorpos não são importantes apenas para defender o organismo de patógenos invasores, como vírus ou bactérias – o que já seria bastante. Segundo uma nova pesquisa, os anticorpos, além de soldados, atuam como espécies de enfermeiros.

De acordo com um estudo feito por um grupo da Escola de Medicina da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, os anticorpos também estão envolvidos no processo de reparação de nervos danificados. O trabalho será publicado esta semana no site e em breve na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

A ausência de anticorpos no sistema nervoso central (formado por cérebro e medula espinhal) seria uma das principais razões por que os nervos danificados nessas áreas não são reparados naturalmente em humanos.

No trabalho, feito em camundongos, os pesquisadores mostram pela primeira vez que os anticorpos são críticos para a restauração de danos no sistema nervoso periférico, o tecido que se estende para fora do cérebro e da medula espinhal – como o nervo ciático, que é acessado por anticorpos circulantes.

O estudo também indicou que alguns (embora poucos) desses anticorpos atuam na reparação de nervos danificados. A descoberta abre caminhos para a investigação de possíveis tratamentos para problemas como danos na medula ou acidente vascular cerebral.

“Ninguém sabe por que, mas células no sistema nervoso central não são capazes de se regenerar após acidentes, enquanto células no sistema nervoso periférico se regeneram robustamente”, disse Ben Barres, chefe da cadeira de neurobiologia em Stanford e um dos autores do estudo.

Enquanto os anticorpos têm acesso limitado ao cérebro e à medula espinhal, eles entram sem dificuldade no sistema nervoso periférico.

Células nervosas conduzem impulsos eletroquímicos por longas distâncias por meio de projeções longas e tubulares chamadas axônios. Essas estruturas são tipicamente cobertas por uma camada isolante formada por uma substância gordurosa de múltiplas dobras cujo conjunto é denominado bainha de mielina – composto por fibras nervosas mielínicas.

“Após o dano a um nervo, a mielina degenerada se desloca da área do acidente e é rapidamente limpa no sistema nervoso periférico, mas não no central. No cérebro ou medula espinhal danificados, a mielina degenerada simplesmente continua ali pelo restante da vida do indivíduo. Mas em um dano no nervo ciático, para ficarmos em um exemplo, ela é eliminada em uma semana ou menos”, disse Barres.

No estudo, os autores empregaram camundongos modificados geneticamente para que não produzissem anticorpos e verificaram que não houve restauração de nervos nem remoção da mielina da área afetada. Ao injetar nos camundongos transgênicos anticorpos de animais normais, os cientistas observaram os dois processos.

“Observamos que os anticorpos se grudam na mielina degenerada, marcando-a para a ação dos macrófagos, células imunes vorazes responsáveis pela limpeza”, disse Mauricio Vargas, outro autor do estudo.

Os pesquisadores injetaram nos camundongos geneticamente modificados anticorpos que têm como alvo específico uma proteína que ocorre somente na mielina. O processo restaurou o reparo de terminações nervosas, o que não ocorreu quando administraram outros anticorpos, não associados com a mielina.

Obesidade e atrofia cerebral



Agência FAPESP – Um gene ligado à obesidade, presente em quase metade dos europeus ocidentais, pode estar também associado com a degeneração cerebral. A conclusão é de um estudo que será publicado esta semana no site e em breve na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

Para fazer a pesquisa, Paul Thompson, da Escola de Medicina da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, e colegas produziram mapas em três dimensões dos cérebros de 206 caucasianos idosos e saudáveis.

Os cientistas descobriram um padrão de volume cerebral reduzido em portadores de uma sequência de DNA específica (alelo) localizada dentro do gene associado com massa gorda e obesidade (conhecido como FTO).

Segundo os autores do estudo, as diferenças com relação aos demais voluntários não são atribuídas a outros fatores ligados à obesidade, como nível de colesterol, diabetes e pressão alta.

Trabalhos anteriores observaram que o alelo, que está associado com circunferência abdominal e altura maiores do que a média, está presente em 46% dos europeus ocidentais e centrais e em 16% dos asiáticos.

Os autores destacam que a obesidade é um fator conhecido para o declínio cognitivo e que o novo estudo não identificou o mecanismo por trás da atrofia cerebral nos portadores do alelo.

Segundo eles, até o momento não foi possível determinar se a influência genética dessa sequência está entre os fatores determinantes da obesidade. Os pesquisadores apontam que essa variante genética pode contribuir com a degeneração cerebral independentemente (ou além) da influência sobre a massa corporal dos portadores.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Saber mentir é sinal de inteligência em crianças, sugere estudo


Segundo os cientistas responsáveis pela pesquisa, os complexos processos mentais envolvidos na formulação de uma mentira são um indicador de que a criança atingiu um importante estágio no seu desenvolvimento, e algumas passam por essa mudança antes que outras.

O estudo, realizado pelo Instituto de Estudos da Criança da Universidade de Toronto, no Canadá, envolveu 1,2 mil crianças e jovens com idades entre dois e 17 anos.

Apenas um quinto (20%) das crianças de dois anos avaliadas no estudo mostraram ser capazes de não falar a verdade. Já aos quatro anos, 90% das testadas mentiram.


Brinquedo


O diretor do instituto, Kang Lee, testou a honestidade das crianças dizendo a elas que não olhassem para um brinquedo colocado atrás delas.

Depois, disse que tinha de sair da sala para atender a um telefonema. Uma câmera escondida monitorou as reações das crianças.

Ao retornar, ele perguntou se a criança havia virado para olhar o brinquedo, e depois o pesquisador comparou as respostas com o material gravado.

Kang Lee afirmou que os pais não devem ficar preocupados se seus filhos contarem mentiras.

"É um sinal de que alcançaram um novo marco no seu desenvolvimento", disse ele ao Times. "Os que têm melhor desenvolvimento cognitivo mentem porque são capazes de esconder as pistas."

Kang disse que a mentira só é possível porque as crianças adquiriram a habilidade de realizar um complexo malabarismo mental que envolve guardar a verdade em algum compartimento no cérebro.

Segundo os pesquisadores, pais mais severos ou uma educação religiosa não interferem na habilidade ou frequência de mentiras.

Os cientistas também disseram que aparentemente não há relação entre saber contar mentiras logo cedo e desonestidade na vida adulta.

Fonte: BBC BRASIL

terça-feira, 15 de junho de 2010

'Síndrome das pernas inquietas' atrapalha sono de britânica há 46 anos



Uma britânica não tem uma boa noite de sono há 46 anos por causa de um problema neurológico conhecido como Síndrome das Pernas Inquietas (no inglês, RLS - Restless Legs Syndrome).

A síndrome é caracterizada por provocar uma necessidade incontrolável de mexer as pernas para aliviar dor ou sensação de desconforto.

Pesquisadores identificaram recentemente que a doença, que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, tem origem genética.

Todas as quatro irmãs de Beverly e também outros seis membros de sua família sofrem da síndrome em diferentes graus de intensidade.

Na maioria das vezes, a síndrome é provocada por dores ou sensação de desconforto nas pernas, mas, no caso de Beverley, cujo caso é considerado grave, as dores são no estômago. Ela é obrigada a levantar e caminhar para aliviar a dor.

“Começa nas costas e é como dor de trabalho de parto. Ela passa então para a frente até você estar em espasmos. E só cresce, cresce e faz você parar de respirar”, explica Beverley.

'Coceira nos ossos'

Ela diz que as pessoas costumam não acreditar quando ela diz que passa três noites sem dormir.

O médico especializado em problemas do sono do Hospital St Thomas, em Londres, Adrian Williams diz que algumas pessoas descrevem a sensação como “tendo bebidas gaseificadas correndo em suas veias” ou tendo coceira nos ossos.

O próprio Dr. Williams diz ter o problema em um grau menor e que lembra de sua mãe deitada no chão mexendo suas pernas tentando aliviar a dor.

“A descoberta de que existe um gene ligado à síndrome pode levar a futuras terapias para amenizá-la ou até para curá-la”, afirmou Williams.

Beverley diz que a condição é tão ruim que ela não a deseja para seu pior inimigo. “Eu realmente espero que uma cura seja encontrada logo e que a doença pare de ser repassada para outras gerações e destrua vidas.”

A Síndrome das Pernas Inquietas também pode ser causada por algum problema físico, como falta de ferro e vitaminas, diabetes ou problemas nos rins. Além disso, a doença pode se manifestar durante a gravidez.

Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/ciencia/2010/06/100614_pernas_inquietas_aw.shtml

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Entender como o cérebro funciona é a saída para esquecer um grande amor



Às vésperas do Dia dos Namorados, o especialista em neurologia comportamental da Universidade de Iowa, nos EUA, Antoine Bechara, veio ao Brasil para explicar como esquecer um grande amor. Sua teoria é baseada em estudos sobre mecanismos cerebrais, explicados no 6° Congresso Brasileiro de Cérebro Comportamento e Emoções, que acontece até sábado (12) em Gramado, no Rio Grande do Sul.

Quase todos os ensinamentos da vovó sobre como remediar uma desilusão amorosa são explicados por estudos sobre o cérebro, órgão que comanda os sentimentos e as emoções muito mais do que seu coração, que insiste em disparar quando você vê o dito cujo.



Um dos poucos conhecimentos populares que escapa da comprovação científica é que o tempo é o melhor amigo para quem quer esquecer alguém. Segundo Bechara, o tempo nem sempre ajuda, já que as emoções permanecem, principalmente se você insiste em lembrar os bons momentos que passaram juntos. “Existe um sistema dedicado do cérebro que liga na sua memória sensações à determinada emoção. E ela sempre volta, conscientemente ou não.”

E por que ainda sentir “borboletas no estômago” toda vez que vê seu antigo amor? Dois sistemas cerebrais que explicam. O primeiro é movido pela amígdala, responsável por respostas automáticas, as sensações como seu coração disparar e você ter frio na barriga. "Isso acontece porque seu corpo reage, a pessoa é vista por seu corpo como uma ameaça – você precisa ficar alerta", diz. A outra forma é no córtex pré-frontal, quando você lembra do amado, o que pode desencadear a mesma emoção, mesmo quando ele está a quilômetros de distância”.



Se tudo o que você quer é superar a situação, essas sensações causam desconforto, por isso o cérebro fica em conflito. De um lado, circuítos cerebrais mantêm o amor aceso; de outro, a necessidade de seguir em frente. “Aí vai do que é mais forte no seu cérebro. Se as recordações ruins forem mais fortes, elas irão ganhar a 'luta' na sua cabeça”, explica.


O efeito de um fora

O neurologista destaca que, em diversos casos, se você levou um fora, é possível que fique mais apaixonada ainda. Isso acontece porque, quando nos privamos de algo, nosso corpo sente maior necessidade de ter aquilo. “Quando você se vê sem o controle da situação, você deseja mais aquilo, é como quando somos privados de comida, por exemplo”.

Ele lembra que fome, amor, sede etc. são circuitos similares e que se sobrepõem no cérebro. “Uma analogia é comparar com o paladar. São quatro sabores primários, mas existem infinitos sabores dependendo das combinações que são feitas. O mesmo ocorre com as emoções”.



Ainda assim, Bechara é um otimista. “Acredito que o 'coração' sempre toma as melhores decisões. Nem sempre racionalizar tudo resolve os problemas”, enfatiza. Apesar disso, se o coração não ajuda, é racionalizando que podemos, pelo menos, nos livrar do problema.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Paródia sobre AVC

Internos do Hospital Geral Dr. César Cals em paródia sobre AVC.

Fumar e beber podem atuar na mesma área do cérebro


Pesquisadores da Universidade de Queensland, na Austrália, investigaram por que era mais difícil para alcoólatras largarem o cigarro. Por meio de análises pós-morte da expressão de genes nos cérebros de fumantes, alcoólatras e fumantes-alcoólatras, os estudiosos chegaram à conclusão de que os dois vícios podem estar ligados geneticamente numa região específica do cérebro.

O grupo verificou que o núcleo accumbens (região do cérebro ligada à sensação de prazer) dos fumantes-alcoólatras tinha maior expressão de um conjunto de genes do que o dos fumantes ou o dos alcoólatras não-fumantes. Esses genes seriam responsáveis pelo rearranjo de neurônios nessa região – ou seja, as pessoas que fumam e bebem podem ter uma sensação de maior prazer, sendo mais difícil se livrar dos vícios.

Para ler mais sobre o estudo acesse http://www3.interscience.wiley.com/journal/123415877/abstract.

domingo, 6 de junho de 2010

Álcool mata células-tronco de cérebros de adolescentes




Um estudo em cérebros de macacos produziu a melhor evidência de que grandes bebedeiras podem causar danos duradouros a cérebros de jovens. O maior problema ocorre nas células-tronco destinadas a se tornarem neurônios no hipocampo, a área do órgão responsável pela memória e a noção espacial. As informações são do New Scientist.

Segundo a pesquisa, os cérebros de macacos se desenvolvem da mesma maneira que os de humanos, o que indica que os mesmos resultados seriam encontrados em adolescentes.

O estudo
Chitra Mandyam, do Instituto de Pesquisas Scripps, no Estado americano da Califórnia, e sua equipe deram drinks durante uma hora por dia durante 11 meses a macacos. Dois meses depois, os animais eram mortos e seus cérebros comparados com os de macacos que não consumiram álcool.




Os primeiros tinham 50% a 90% menos células-tronco nos seus hipocampos comparados com os que não beberam. "Nós vemos um profundo decréscimo em células vitais", diz Mandyam à reportagem.

Além dos possíveis problemas de memória e de habilidades espaciais, os pesquisadores acreditam que o consumo prematuro de álcool pode levar mais facilmente à dependência quando esses jovens chegarem à idade adulta. Estudos anteriores já indicaram que 41% dos adolescentes que começam a beber aos 12 anos desenvolvem dependência, enquanto que, entre aqueles que começam a beber aos 18 anos, a dependência chega a 11%.

Jovens de até 20 anos têm menor capacidade de concentração


Adolescentes possuem o cérebro mais confuso e suscetível a distrações do que adultos, indicou uma nova pesquisa publicada no Journal of Neuroscience, nesta quarta-feira (02).

Segundo os pesquisadores da University College London até 18,8 anos os jovens têm mais dificuldades de concentração, o que vai melhorando gradualmente com a idade até atingir nível estável perto dos 20 anos.

Ao contrário do que os cientistas imaginavam, o cérebro não está completamente desenvolvido até os vinte e tantos anos. Seu funcionamento ainda é caótico, com grande atividade no córtex pré-frontal, responsável pela tomada de decisões e multitarefa, o que mostra que o cérebro opera com menos eficiência do que o de adultos.

Assim, os adolescentes precisavam usar mais o cérebro para se focar na atividade proposta na pesquisa que era indicar formas de letras que apareciam na tela em momentos com e sem distrações. Os jovens prestavam mais atenção nos objetos fora da atividade.

O estudo feito com 178 participantes de 7 a 27 anos constatou que a única melhora nas funções cognitivas de acordo com a idade foi na concentração. Ainda assim, o acerto médio foi maior que 90% em todas as condições.

Fonte: http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/ultimas-noticias/2010/06/02/jovens-de-ate-20-anos-tem-menor-capacidade-de-concentracao.jhtm

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Afinal, quantas células tem o cérebro humano?

Dados recentes de contagem celular absoluta desmancham mitos da neurociência, mostra colunista.

Por: Roberto Lent
Publicado em 27/02/2009 | Atualizado em 15/12/2009


A foto de cima representa todos os núcleos das células cerebrais, com seu DNA marcado em azul, em uma amostra de contagem segundo o nosso método. A foto de baixo mostra apenas os núcleos daquelas que são neurônios, no mesmo campo, apontadas em cima pelas


O criacionismo, do qual tanto se fala hoje em dia, atribui a Deus a criação de todas as coisas, dos seres humanos em especial. Trata-se de uma tese baseada na fé, digna de respeito como qualquer crença, mas que se choca com a abordagem científica da natureza, especialmente com a teoria da evolução estabelecida tão firmemente por Charles Darwin (1809-1882), o naturalista inglês que percorreu o mundo – inclusive o Brasil.

Parafraseando o Marquês de Laplace (1749-1827), eminente físico francês: Deus não é uma hipótese necessária para a teoria da evolução. Conta-se que uma frase semelhante a essa foi dita por ele em resposta a Napoleão Bonaparte que, lendo seus trabalhos, indagou-lhe: – “Não vi a presença do Criador em suas obras, marquês”. Ao que Laplace respondeu: – “A hipótese divina, senhor, de fato explica tudo; no entanto, não permite prever nada. Como cientista, minha função é produzir trabalhos que permitam previsões.”

A precisa definição sobre a natureza da ciência que Laplace utilizou se aplica como uma luva aos resultados a que chegamos recentemente, Suzana Herculano-Houzel e eu, por meio da tese de mestrado do aluno Frederico Azevedo, no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Nossa intenção inicial era testar a exatidão do número de neurônios estimado para o cérebro humano em todos os livros de neurociência: cem bilhões. Esse número foi sempre considerado tão verdadeiro, que eu mesmo me senti seguro em dar esse título a um livro que publiquei há oito anos e a esta coluna da Ciência Hoje On-line.

No entanto, ao rever a literatura especializada, concluímos que não havia, na verdade, qualquer evidência científica sólida para esse número. E mais: os livros declaravam sempre que, para cada neurônio do cérebro, existiriam 10 células gliais, os elementos coadjuvantes dos neurônios nas funções cerebrais. E, também neste caso, nenhuma evidência científica.

Novo método de contagem
A motivação em encontrar evidências para esse número nos levou a inventar um método de contagem absoluta de células do cérebro de qualquer animal, com alto grau de confiabilidade. Testamos o método em ratos, depois o aplicamos a diferentes espécies de roedores. Suzana fez o mesmo para diferentes espécies de primatas, e aí a coisa começou a ficar interessante do ponto de vista da teoria da evolução.

É que, quando se correlaciona o tamanho do cérebro com o seu número de neurônios e de células não-neuronais, encontra-se uma regra matemática precisa, chamada “regra de escala”, característica de cada grande grupo de animais. Na ordem dos roedores, por exemplo, o número de neurônios cresce proporcionalmente ao tamanho do cérebro, e a função matemática que descreve essa correlação é uma função potência.


O cérebro dos roedores cresce mais para um menor acréscimo de neurônios do que o cérebro dos primatas, que atinge grandes números de neurônios em um tamanho menor de cérebro.


Na ordem dos primatas, diferentemente, o número de neurônios também cresce proporcionalmente ao tamanho do cérebro, mas a função matemática é uma função linear. Isso significa que, se existisse um roedor com 100 bilhões de neurônios, este teria um cérebro de 45 quilos e um corpo de 110 toneladas!

Foi mais vantajoso, então, durante a evolução, tirar vantagem de uma ordem de animais – os primatas – cuja regra de escala é linear, porque neste caso o aumento do número de células não exige aumento tão absurdo do tamanho do cérebro e do corpo.

Uma característica das regras de escala é que elas permitem prever o número de neurônios ou de células não-neuronais de qualquer roedor, ou de qualquer primata, mesmo sem contar diretamente essas células. É a beleza do raciocínio científico tão bem enfatizado por Laplace.

E o cérebro humano?
Muito bem. E o cérebro humano? Nossa primeira abordagem foi aplicar a ele a regra de escala dos primatas. Quantos neurônios, de acordo com a função linear determinada, deveria ter um primata com um cérebro de 1,5 quilo, o peso aproximado do cérebro humano? Bingo! O resultado estimado ficou perto dos cem bilhões.

Neste caso, porém, não poderíamos parar na estimativa, porque os evolucionistas acreditavam que o cérebro humano é especial: um cérebro enorme, muito maior do que o de qualquer outro primata, para um corpo relativamente pequeno, pelo menos em comparação com os orangotangos e gorilas. O cérebro humano devia ser um ponto fora da curva, um objeto especial na natureza!


Números absolutos de neurônios e células não-neuronais nas principais regiões do cérebro humano. Modificado de Azevedo e colaboradores (2009).


Nosso aluno Fred obteve cérebros masculinos fornecidos pelo Banco de Cérebros da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), pertencentes a homens de 50-70 anos de idade, falecidos de causas não-neurológicas e sem comprometimento mental de qualquer tipo.

Fred levou um ano para padronizar a técnica para o material humano e, no ano seguinte, conseguiu determinar o número médio de neurônios: 86 bilhões, abaixo do “número mágico” aceito até o momento.

E mais: não era verdade que o número de células não-neuronais seria 10 vezes maior do que o de neurônios. Encontramos, em vez disso, uma proporção de 1 para 1. Outro mito desfeito.

O mais importante de tudo é que os números obtidos experimentalmente puderam ser colocados na função matemática de escala dos primatas e casaram perfeitamente! A conclusão é que os seres humanos têm um número de neurônios previsível para o tamanho de cérebro que possuem. Não temos, assim, nada de excepcional: somos beneficiários da evolução das espécies, que selecionou uma ordem de animais cujo número de neurônios pode crescer de modo mais compacto que os demais, sem exagerar no tamanho do cérebro. E ainda temos a sorte de sermos, dentre os primatas, a espécie com o maior cérebro.

Agora, a ciência que pratico com tanto prazer me criou um problema: como faço com o título de meu livro e desta coluna, que se tornaram inexatos? Estou aberto às sugestões dos leitores. Que título poderei usar para a nova edição que sairá este ano, e para a continuidade da coluna? Mande suas ideias para rlent@anato.ufrj.br .

SUGESTÕES PARA LEITURA
F.A.C. Azevedo e colaboradores (2009) Equal numbers of neuronal and non-neuronal cells make the human brain an isometrically scaled-up primate brain. Journal of Comparative Neurology vol. 513: pp. 532-541.
S. Herculano-Houzel e colaboradores (2007) Cellular scaling rules for primate brains. Proceedings of the National Academy of Sciences of the USA vol. 104: pp. 3562-3567.
S. Herculano-Houzel e R. Lent (2005) Isotropic fractionator: A simple, rapid method for the quantification of total cell and neuron numbers in the brain. Journal of Neuroscience vol. 25: pp. 2518-2521.
R. Lent (2002) Cem Bilhões de Neurônios. Editora Atheneu, Rio de Janeiro, 698 pp.

Roberto Lent
Professor de Neurociência
Instituto de Ciências Biomédicas
Universidade Federal do Rio de Janeiro
27/02/2009

Fonte: http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/bilhoes-de-neuronios/afinal-quantas-celulas-tem-o-cerebro-humano