sábado, 26 de junho de 2010

Anticorpos e reparação de nervos




Agência FAPESP – Anticorpos não são importantes apenas para defender o organismo de patógenos invasores, como vírus ou bactérias – o que já seria bastante. Segundo uma nova pesquisa, os anticorpos, além de soldados, atuam como espécies de enfermeiros.

De acordo com um estudo feito por um grupo da Escola de Medicina da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, os anticorpos também estão envolvidos no processo de reparação de nervos danificados. O trabalho será publicado esta semana no site e em breve na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

A ausência de anticorpos no sistema nervoso central (formado por cérebro e medula espinhal) seria uma das principais razões por que os nervos danificados nessas áreas não são reparados naturalmente em humanos.

No trabalho, feito em camundongos, os pesquisadores mostram pela primeira vez que os anticorpos são críticos para a restauração de danos no sistema nervoso periférico, o tecido que se estende para fora do cérebro e da medula espinhal – como o nervo ciático, que é acessado por anticorpos circulantes.

O estudo também indicou que alguns (embora poucos) desses anticorpos atuam na reparação de nervos danificados. A descoberta abre caminhos para a investigação de possíveis tratamentos para problemas como danos na medula ou acidente vascular cerebral.

“Ninguém sabe por que, mas células no sistema nervoso central não são capazes de se regenerar após acidentes, enquanto células no sistema nervoso periférico se regeneram robustamente”, disse Ben Barres, chefe da cadeira de neurobiologia em Stanford e um dos autores do estudo.

Enquanto os anticorpos têm acesso limitado ao cérebro e à medula espinhal, eles entram sem dificuldade no sistema nervoso periférico.

Células nervosas conduzem impulsos eletroquímicos por longas distâncias por meio de projeções longas e tubulares chamadas axônios. Essas estruturas são tipicamente cobertas por uma camada isolante formada por uma substância gordurosa de múltiplas dobras cujo conjunto é denominado bainha de mielina – composto por fibras nervosas mielínicas.

“Após o dano a um nervo, a mielina degenerada se desloca da área do acidente e é rapidamente limpa no sistema nervoso periférico, mas não no central. No cérebro ou medula espinhal danificados, a mielina degenerada simplesmente continua ali pelo restante da vida do indivíduo. Mas em um dano no nervo ciático, para ficarmos em um exemplo, ela é eliminada em uma semana ou menos”, disse Barres.

No estudo, os autores empregaram camundongos modificados geneticamente para que não produzissem anticorpos e verificaram que não houve restauração de nervos nem remoção da mielina da área afetada. Ao injetar nos camundongos transgênicos anticorpos de animais normais, os cientistas observaram os dois processos.

“Observamos que os anticorpos se grudam na mielina degenerada, marcando-a para a ação dos macrófagos, células imunes vorazes responsáveis pela limpeza”, disse Mauricio Vargas, outro autor do estudo.

Os pesquisadores injetaram nos camundongos geneticamente modificados anticorpos que têm como alvo específico uma proteína que ocorre somente na mielina. O processo restaurou o reparo de terminações nervosas, o que não ocorreu quando administraram outros anticorpos, não associados com a mielina.

Um comentário:

  1. “Ninguém sabe por que, mas células no sistema nervoso central não são capazes de se regenerar após acidentes, enquanto células no sistema nervoso periférico se regeneram robustamente”, disse Ben Barres, chefe da cadeira de neurobiologia em Stanford e um dos autores do estudo.

    Não seria aquela diferença dos oligodendrócitos e células de Schwann a causa da não regeneração de células nervosas no SNC?

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