Os caminhos que a mente humana pode seguir quando interpretamos acontecimentos que estão além do nosso alcance são muitos.
Quando nos deparamos com situações nas quais não estamos acostumados, fica mais fácil abandonar a tentativa de entendê-las, ou, pelo menos, procuramos uma maneira mais fácil de aceitá-la. No caso dos contos fantásticos, nossa mente procura uma explicação acima de qualquer uma dada pelo racional. Mas as fábulas são muito mais que contos sobre coisas que não compreendemos, ou que aceitamos sem questionar.
Pelo menos na história de Benjamin Button a fábula é mais do que uma fábula, ela está no campo da nossa reflexão sobre os caminhos, diretos ou inversos, que o tempo faz.
Os desígnios do amor são mesmo indescritíveis e imprevisíveis. No caso de “O Curioso Caso de Benjamin Button”, esta definição é elevada à enésima potência, já que a história — baseada em conto de F. Scott Fitzgerald, certamente pouco conhecido no Brasil — faz com que os encontros e desencontros de quem ama desobedeçam até à linha do tempo… ou seria o tempo que desobedece à evolução dos caminhos do amor ?
Desde as primeiras cenas, onde o grande relógio nos lembra que não dominamos o desenrolar de cada pequeno momento de nossas vidas, o filme de David Fincher (diretor dos excelentes “Clube da Luta” e “Seven”) é extremamente tocante e, bem filmado, emociona sem apelos forçadamente dramáticos. Tudo é ficção, até pela inusitada situação do protagonista, mas ao mesmo tempo tudo é intimamente ligado ao cotidiano dos sentimentos de qualquer indivíduo, mesmo que não passando nem de longe por uma situação tão estranha como a de Benjamin. De fato, não importa em que época a história se passa nem em que local: eis que crescimento, maturidade, idade cronológica, as experiências da vida e a intensidade do amar se misturam, se confundem e se expõem — e são expostos pelo excelente roteiro de Eric Roth e Robin Swicord — totalmente atemporais, de forma tão tocante que dificilmente fará com que o espectador saia ileso da sala escura.
O elenco é maravilhoso. Entre os coadjuvantes, foi ótimo assistir a Faune A. Chambers depois de sua deliciosa interpretação em “Ritmo de Um Sonho”, e igualmente bom é rever a sumida Julia Ormond, que liga o presente ao filme, rodado em Nova Orleans e com a trágica passagem do furacão Katrina como pano de fundo. Destaque para a participação da sempre excepcional Tilda Swinton (rouba todas as cenas), e prestem atenção em Elle Fanning fazendo Daisy aos 7 anos de idade.
Cate Blanchett é uma atriz notável. Com um excelente trabalho de maquiagem e expressão corporal, Cate impressiona dando vida à protagonista feminina em diversas idades: emociona o espectador em cada uma delas.
Mas o filme é mesmo de Brad Pitt. Sua caracterização deixa inclusive o espectador muito curioso sobre o que foi necessário além de maquiagem para compor as diversas fases do personagem — é esperar o making-of quando o DVD for lançado para conferir. Mas Pitt vai muito além disso: numa interpretação concisa e tocante, dá veracidade a cada época da vida de Benjamin, personagem que seria um grande desafio para qualquer ator. Indicado ao Globo de Ouro (perdeu para Mickey Rourke) e ao BAFTA, Pitt merece ao menos a indicação ao Oscar deste ano.
Há muito o que falar sobre o filme, mas é melhor deixar que o espectador viaje nesta bela história. Levem seus lenços — sem ser piegas ou apelativo, as lágrimas são inevitáveis. Sem dúvida, os cinemas brasileiros já exibem um dos melhores filmes de 2009, não perca.
Fonte: http://cinemagia.wordpress.com/2009/01/21/resenhas-o-curioso-caso-de-benjamin-button/
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