terça-feira, 21 de agosto de 2012

Uma questão de potência.

As vivências sexuais pré-genitais na infância, acrescidas das experiências socioculturais, constituem a base da identidade sexual masculina e ajudam a compor o imaginário em torno do pênis.


Símbolo de poder, domínio e virilidade, o pênis sempre ocupou posição de relevância na cultura de praticamente todas as civilizações, sendo inegável o fascínio que exerce sobre a humanidade desde os tempos mais remotos. As diversas representações sobre o órgão sexual masculino formaram um imaginário tão poderoso que ultrapassou o senso comum e tornou-se objeto de estudo da ciência. Elemento fundamental na construção da identidade masculina, a forma como o pênis é visto no contexto sociofamiliar e a percepção que o homem tem do valor atribuído a sua posse determinam o desenvolvimento de sua estrutura psicossexual. Para o jornalista americano David M. Friedman, o pênis é o órgão definidor do sexo masculino, pois constitui a mais evidente diferença física entre homens e mulheres. É a presença ou ausência dessa parte do corpo que, ainda no período da gestação, define não apenas o sexo, mas também como todos os demais passarão a interagir com a criança que está por vir. No caso do menino, grande atenção é dada a seus genitais desde a confirmação do sexo. Tal referência lança as sementes para que, no futuro, ele perceba que tem algo de muito valor: seu pênis. Já quando se trata de uma menina, não há interesse algum por seus genitais; ao contrário, seu sexo é identificado pela ausência do pênis. Segundo a teoria psicanalítica, o desenvolvimento sexual infantil ocorre em três fases: oral, anal e fálica. Antes de atingir a fase adulta ou genital, a criança passa por um período de latência, que se estende até a puberdade. Nas fases oral e anal não existe qualquer diferenciação no desenvolvimento de meninos e meninas, enquanto na fálica, por volta dos 3 anos de idade, há um direcionamento da libido para os genitais.

Nessa etapa as diferenças entre os sexos chamam muito a atenção das crianças e é fácil compreender por que, para elas, pode parecer natural que à menina falte algo em vez de ter um corpo diferente, pois, se o pênis é um órgão externo, de fácil visualização, a vagina caracteriza-se como uma parte interna e, consequentemente, não pode ser vista. De acordo com a teoria freudiana, a compreensão infantil é de que o homem tem algo que falta à mulher, sendo natural a associação de certa superioridade dele sobre ela. Ter pênis é entendido como atributo de valor dos meninos e elemento fundamental da identidade masculina. É na fase fálica que os modelos de relação entre homens e mulheres são organizados, e o menino (no caso, o futuro heterossexual, objeto deste artigo) tem no sexo oposto a obtenção de satisfação de seus desejos. O fato de a mãe ser responsável pela sobrevivência do filho e atender não apenas a suas necessidades fisiológicas, mas também afetivas, leva o menino a elegê-la como objeto de seu desejo. É por meio do contato com ela que o garoto tem as primeiras vivências afetivo-sexuais, alicerces para futuras relações com a figura feminina. É muito comum ouvirmos um filho dizendo ser o namorado da mamãe, concretizando, nessa fala, o desejo de ter a mãe só para si. Mas há um impedimento para a realização dessa fantasia infantil, pois essa mulher já tem outro em sua vida: o pai, como figura de autoridade, que impede o menino de ter a mãe como sua. Ao mesmo tempo que é amado e tido como modelo no qual o filho pode se espelhar, é também o grande rival, gerando sentimentos contraditórios de amor e ódio. O garoto deseja a mãe e quer eliminar seu rival, mas teme ser punido com a castração, configurando o que Freud denominou de complexo de Édipo, em referência à peça Édipo rei , de Sófocles (496-405 a.C.). Segundo a teoria psicanalítica, ao temer a castração, o menino reprime a atração sentida pela mãe, o que encerra, assim, a etapa fálica da sexualidade infantil.

Nesse caso, o garoto poderá identificar-se com a figura paterna e, no futuro, buscar para si uma mulher para amar, desejar e, quem sabe, constituir a própria família. No entanto, se essa etapa for assimilada de maneira negativa, o menino talvez se sinta castrado em sua masculinidade e inseguro quanto a sua capacidade de realizações no campo afetivo-sexual.

Todas as experiências sexuais infantis deixarão profundas marcas na memória, algumas conscientes, porém a maioria, inconscientes.

Fonte: http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/uma_questao_de__potencia.html

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