terça-feira, 24 de abril de 2012

Lobotomia faz 75 anos: De cura milagrosa a mutilação mental.




É a retirada de uma parte do cérebro. "Cada hemisfério do nosso cérebro é dividido em quatro partes ou lobos que são chamados frontal, occipital, parietal e temporal" , explica o neurologista Saul Cypel, do Hospital das Clínicas, em São Paulo. "A retirada do lobo pode ser total ou parcial." Em épocas antigas, a lobotomia era usada em pacientes com certos tipos de doenças mentais como forma de acalmá-los. Atualmente, nesses casos a técnica cirúrgica foi substituída por medicamentos ou psicoterapia. A lobotomia pode ser usada, por exemplo, para extrair tumores. Entretanto, a retirada de uma área do cérebro pode afetar as funções relacionadas com ela. Se for extraída a parte posterior do lobo frontal esquerdo, a fala pode ficar comprometida. "Quando a lobotomia é feita até por volta dos 3 anos de idade, o outro hemisfério do cérebro pode assumir a função da parte extraída, e não haverá seqüelas", explica Cypel. A lobotomia é também usada em casos de epilepsia, quando o problema não pode ser controlado com tratamento convencional. Retira-se um foco epiléptico localizado, ou seja, a região do cérebro responsável pelas descargas neuronais que causam as convulsões.

A lobotomia, mais adequadamente denominada leucotomia, é uma intervenção cirúrgica realizada no cérebro, na qual são seccionadas as vias que comunicam os lobos frontais ao tálamo e outras vias frontais associadas. Antigamente, foi muito utilizada em casos severos de esquizofrenia, sendo considerada a técnica pioneira e de maior sucesso na psicocirurgia.
Esta técnica foi desenvolvida pelo médico neurologista português Antônio Caetano de Abreu Freire Egas Moniz, realizando-a pela primeira vez no ano de 1935, juntamente com a participação de outro médico cirurgião Almeida Lima. Para o desenvolvimento da lobotomia, Moniz baseou-se em achados que tinha feito anos antes, de que determinados sintomas neurológicos induzidos em chimpanzés poderiam ser reduzidos por meio da secção de nervos que conectam o córtex pré-frontal com o restante do cérebro. A partir de então, Moniz criou uma técnica denominada leucotomia que se resumia em seccionar tratos de fibras que conectam o tálamo ao lobo frontal, utilizando-se uma faca especial, chamada de leucótomo.

A princípio, esta técnica foi utilizada no tratamento de depressão profunda, sendo que Moniz sempre defendeu o seu uso somente em casos graves, nos quais houvesse risco de suicídio ou violência. Embora aproximadamente 6% dos pacientes tenham morrido em decorrência da operação, enquanto outros diversos ficaram com alterações exacerbadas de personalidade, a técnica foi utilizada entusiasmadamente em diversos países, como Japão e Estados Unidos. Neste último, a técnica foi popularizada pelo cirurgião Walter Freeman, responsável por criar uma variante da cirurgia, na qual se espetava um picador de gelo diretamente no crânio do paciente, desde um ponto localizado acima do canal lacrimal, com o auxílio de um martelo, girando-o, em seguida, para destruir as fibras nervosas ali presentes.

Esta técnica tornou-se popular, pois, além de apresentar baixo custo, havia o desejo de silenciar pacientes psiquiátricos, que eram considerados incômodos. Também foi utilizada em crianças que apresentavam mau comportamento. Assim que surgiram os primeiros medicamentos antipsicócitos, essa técnica foi abandonada, sendo banida de grande parte do mundo na década de 50. Atualmente, o uso dessa técnica é considerado como um dos episódios mais bárbaros da história da Psiquiatria.

Nos dias de hoje, a leucotomia que foi desenvolvida por Moriz não é mais utilizada. Contudo, ainda são praticadas algumas técnicas oriundas da leucotomia original, mas que causam lesões em regiões bem específicas. Efeitos secundários dessa técnica quase não são observados, mas por se tratar de uma técnica irreversível e que causa alterações na personalidade do paciente, é utilizada apenas como último recurso, como casos de dores crônicas intratáveis, neurose obsessiva, ansiedade crônica ou depressão profunda prolongada.


Fontes: http://super.abril.com.br/saude/lobotomia-488051.shtml
http://www.infoescola.com/medicina/lobotomia/

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