A Revista Galileu publicou uma matéria bem polêmica, na qual um renomado neurocientista defende que a capacidade evolutiva do cérebro humano chegou ao seu limite. A questão principal estaria no dilema entre evoluirmos mais o nosso cérebro e a nossa capacidade cognitiva ou preservarmos o funcionamento dos outros órgãos corporais.
Discusões a parte, sabemos que a capacidade de raciocício do cérebro humano, essa máquina altamente desenvolvida ao longo de milhares de anos, é extremamente fascinante. Segue abaixo a matéria publicada.
Nossa espécie passou os últimos 150 mil anos melhorando o cérebro. Foi o que garantiu que fossem criadas as pirâmides, ônibus espaciais, tratados de filosofia, computadores. Mas uma pesquisa recém-publicada por uma equipe da Universidade de Cambridge, com base em um mapeamento de centenas de pessoas, reforçou uma tese recorrente na neurociência: a de que nossa inteligência chegou a seu limite. Os estudos ainda devem prosseguir para confirmá-la, mas este trabalho, somado aos que vinham sendo realizados nos últimos anos, não deixa margem para muitas dúvidas.
Se evoluísse ainda mais, nosso sistema nervoso passaria a consumir energia e oxigênio a tal ponto que atrapalharia o funcionamento do resto do organismo — e isso nunca vai acontecer porque nos inviabilizaria como espécie. Depois de uma longa evolução, que faz de nós mais inteligentes do que os seres humanos da Antiguidade, nos últimos 200 anos chegamos ao limite da inteligência.
O cérebro humano tem a capacidade de nos tornar altamente adaptáveis a situações e ambientes. Ele nos ajuda a sobreviver em lugares hostis e de mudanças bruscas. Também nos permite fazer planos, resolver problemas e pensar estrategicamente. Para dar conta dessas tarefas, ele mantém uma vasta rede de neurônios. A sintonia deste sistema é mantida por centenas de células, que ficam localizadas em diferentes lugares do cérebro e oscilam de forma sincronizada. Ao longo do tempo, essas células responsáveis pela sincronia da rede cerebral foram surgindo em nódulos intermediários, que garantem que a informação chegue a todos os pontos do corpo sem distorções. Tal evolução nos permitiu aumentar a velocidade das conexões, pensar mais rápido ou lembrar mais coisas sem fazer crescer demais o consumo energético. Mas até isso tem um limite.
Depois de uma tarefa escolar muito difícil, uma leitura árdua ou um jogo de memória complexo, você não se sente cansado? É natural. Este processo cerebral demanda uma grande quantidade de energia e oxigênio. É impossível otimizá-lo a ponto de zerar o consumo energético. E existe um nível em que não é mais funcional alimentar o cérebro. Afinal, o organismo também precisa realizar outras tarefas vitais, como digestão e respiração.
Existe no nosso corpo uma espécie de balança comercial de energia. O custo mínimo não nos deixa muito inteligentes, enquanto que o investimento máximo custa caro demais para o organismo. Em nossa história evolutiva, caminhamos para melhorar nossas conexões cerebrais, mas há um momento em que o custo para manter o sistema nervoso causaria uma pane nos outros órgãos.
Ou seja: chegamos a um ponto em que ser ainda mais esperto significa ter um organismo que vai funcionar mal. A evolução de nossa inteligência tinha um preço que, até agora, valia a pena pagar. Essa situação mudou. Vamos nos manter no nível atual, que já é bastante alto.
* Ed Bullmore é neurocientista e professor de psiquiatria da Universidade de Cambridge, Inglaterra.
Fonte: http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI269886-17774,00-NOSSO+CEREBRO+CHEGOU+AO+LIMITE+DIZ+NEUROCIENTISTA.html
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