sexta-feira, 20 de abril de 2012

"Homem consciente passa 23 anos com o diagnóstico de coma".

Um erro de diagnóstico fez um homem passar 23 anos consciente e "amarrado" a uma cama, enquanto médicos pensavam que ele estava em coma, na Bélgica.



Rom Houben, que tinha 23 anos quando sofreu um acidente de carro que o deixou completamente paralisado, foi submetido a vários exames normalmente utilizado para diagnosticar o coma, baseado em respostas motoras, verbais e oculares.

Ele, no entanto, escutava e via tudo o que acontecia a sua volta, sem conseguir se comunicar com os médicos, familiares e amigos.

Apenas alguns meses atrás, exames com aparelhos de tomografia de última geração mostraram que seu cérebro estava funcionando de maneira praticamente normal.

Houben então foi submetido à várias sessões de fisioterapia e agora consegue digitar mensagens em uma tela de computador.

"Nunca vou esquecer do dia em que descobriram qual era o meu verdadeiro problema. Foi um segundo nascimento", disse. "Todo este tempo eu tentava gritar, mas não havia nada para as pessoas escutarem."

O neurologista Steven Lawreys, que liderou a equipe que descobriu a situação de Houben, publicou um estudo a dois meses alertando que muitos pacientes considerados em estado de coma na verdade podem estar conscientes.

"Apenas na Alemanha, a cada ano, 100mil pessoas sofrem de traumatismo cerebral grave. Estima-se que de 3 a 5 mil deles se mantém presos em um estágio intermediário entre o coma verdadeiro e a total recuperação de seus sentidos e movimentos. Eles seguem vivendo sem nunca mais voltarem", disse Laureys, chefe do grupo de coma do Departamento de Neurologia da Universidade de Liège.

Em 1983, Rom Houben, então um jovem estudante de engenharia e amante de desportos de combate, sofreu um acidente de viação. O seu coração parou e o seu cérebro ficou privado de oxigenação durante vários minutos. A partir dessa altura o seu corpo ficou paralisado e oficialmente em coma. Mas o diagnóstico dos médicos foi demasiado precipitado. Apesar de completamente imóvel, Rom conseguia ouvir tudo o que lhe diziam. Ouvia os médicos falarem do seu estado de saúde e ouviu a mãe comunicar-lhe a morte do pai. Ouviu tudo isto sem poder chorar nem mexer a cabeça. Estava consciente e com um cérebro a funcionar, mas nunca conseguiu que o seu corpo comunicasse esse facto.

Tudo mudou há cerca de três anos. O neurologista Steven Laureys, da Universidade de Liege, que decidiu experimentar uma nova abordagem aos doentes em coma, libertou-o da sua tortura. Usando um inovador sistema de monitorização da actividade cerebral através de ressonância magnética percebeu que o caso de Rom era o de um falso coma.

O momento em que descobriram que eu não estava num estado vegetativo, disse Houben, foi como se tivesse nascido outra vez. “Nunca esquecerei o dia em que me ‘descobriram’. Foi o meu segundo nascimento”, disse Rom à revista alemã “Der Spiegel”, que trouxe o caso a público.

Nos últimos três anos Rom Houben, agora com 46, foi submetido a intensas sessões de fisioterapia e já conseguiu recuperar algum movimento. Comunica através de um ecrã táctil, acoplado à sua cadeira de rodas.

Rom explicou que, durante todos estes anos, conseguiu suportar o pesadelo de não poder comunicar o seu estado através da meditação e revivendo episódios passados. “Viajei com os meus pensamentos para o passado, ou então para uma nova existência. Eu era apenas a minha consciência, e nada mais”, disse Rom, que fala quatro línguas.

“Impotente. Extremamente impotente. Inicialmente fiquei revoltado, mas depois aprendi a viver com isso”, recorda agora Rom, citado pela AP.

O neurologista Steven Laureys - que chefia o grupo científico que estuda os estados de coma no hospital universitário de Liege - acredita que este caso é apenas um entre muitos, estimando que possa haver inúmeros falsos comas diagnosticados em todo o mundo. Laureys estima que os doentes em coma são mal diagnosticados com “assustadora regularidade”. De entre 44 doentes que se pensava estarem em coma, 18 deles responderam fisicamente a pedidos de comunicação.

De acordo com o “The Guardian”, os médicos belgas que diagnosticaram Rom como estando em coma usaram a escala Glasgow Coma Scale, internacionalmente aceite. Esta escala monitoriza os movimentos dos olhos e as respostas verbais e motoras. Porém, apesar de terem usado esta escala, falharam em determinar o correcto funcionamento do cérebro do doente.

“A partir do momento em que alguém é diagnosticado como inconsciente, é muito difícil arrancar a pessoa a esse estado”, indicou Laureys ao “Der Spiegel”.

O neurologista indicou ainda que todos os doentes classificados num estado de coma não-reversível, deverão ser “testados dez vezes” e que os comas, tal como o sono, têm diferentes fases que precisam de ser monitorizadas.

Houben espera vir a escrever um livro contando a sua experiência e o seu “renascimento”, indica o "The Guardian".

Fontes: http://cerebro-online.blogspot.com.br/search/label/coma
http://www.publico.pt/Sociedade/rom-houben-esteve-preso-dentro-do-seu-corpo-durante-23-anos-1411162

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