quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Estudo revela mecanismo dos reflexos das articulações humanas .



Um estudo em humanos e macacos identificou neurônios que reagem entre si de forma quase instantânea como os responsáveis por controlar o movimento das articulações, segundo um artigo publicado em outubro na revista Nature.

O estudo mostra que em animais com múltiplas articulações, como os mamíferos, um dos problemas mais complexos para os cientistas é como interpretar corretamente todos os impulsos sensoriais que produzem a grande quantidade de combinações de movimentos geradas pelas extremidades destes animais.

Até agora, as pesquisas existentes demonstravam que a produção dos movimentos rápidos e involuntários envolve um grau de sofisticação neural maior que nos movimentos voluntários. Nesta nova pesquisa, o professor Stephen Scott da Universidade de Queen (Canadá) afirma que tanto os macacos como os humanos movimentam os cotovelos e os ombros enviando ordens motoras para o cérebro que produzem respostas em 50 milisegundos (500 vezes menos que um segundo).

Através de estímulos magnéticos transcraniais, os cientistas estabeleceram a causa pela qual o córtex motor primário gera de maneira quase instantânea o movimento das articulações durante a geração dos reflexos humanos.

Fonte: http://neurocurso.com/neuronews/1297-estudo-revela-mecanismo-dos-reflexos-das-articulacoes-humanas.html

Assédio moral.

Vítimas desenvolvem sintomas de transtorno de estresse pós-traumático.



Coação, humilhação e constrangimento são situações que muitas vezes não são percebidas como agressão dentro das empresas. O assédio moral é uma forma de violência psicológica extrema no ambiente de trabalho e, infelizmente, frequente – no Brasil, 36% dos trabalhadores a sofrem de forma sistemática, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT).


Conflitos nas relações de trabalho são normais e até mesmo saudáveis. No entanto, se eles se desdobram em episódios de estigmatização, exclusão e, em alguns casos, em ofensas físicas e verbais, a situação se caracteriza como assédio moral. Suas possíveis causas vão desde a cultura do ambiente do trabalho, que fecha os olhos às condutas repressivas e arbitrárias dos superiores sob o pretexto de aumentar a produtividade, até variáveis individuais, como a vulnerabilidade da vítima e a personalidade do agressor, que em mais de 90% dos casos, é o chefe direto.


O dano psicológico pode se manifestar desde sinais de estresse, como irritabilidade e insônia, até distúrbios psíquicos graves, como depressão e abuso de substâncias químicas. Estudos de vários países têm apontado que pessoas que sofrem assédio moral desenvolvem sintomas semelhantes aos do transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), como tensão, hipervigilância e pesadelos recorrentes. Deve-se considerar, além disso, o impacto sobre as relações sociais e afetivas das vítimas – 82,5% delas apresentam problemas de memória, 67% têm baixa autoestima e 60% desenvolvem depressão, segundo pesquisa conduzida pela médica do trabalho Margarida Barreto, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), que entrevistou 42.000 trabalhadores do setor público, de empresas privadas e de organizações não-governamentais (ONGs).



Entre os efeitos econômicos, estão maior número de faltas ao trabalho e perda de produtividade. O índice por doenças cardiovasculares decorrentes da degradação das condições de trabalho aumenta em todos os países, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, há apenas leis municipais e estaduais sobre o tema e uma lei federal que veda empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES). Há, no entanto, um projeto de lei em discussão no Congresso Nacional que propõe a inclusão do assédio moral no Código Penal, com penas de três meses a um ano de cadeia e multa para o agressor.

Fonte: http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/violencia_invisivel.html

Cães terapeutas.


Animais ajudam no tratamento de pacientes com câncer e deficiência mental

Há dez anos, o adestrador de cães Hélio Rovay, a pedagoga Adriana Maracinni e a cadela Nina, da raça labrador, começaram a visitar uma instituição que cuidava de crianças com síndrome de Down em Campinas, no interior de São Paulo. Com medo no início, os pequenos foram pouco a pouco se adaptando à presença de Nina e passaram a interagir com o animal. O casal estendeu as visitas a hospitais que cuidam de pacientes com câncer e a asilos, percebendo que o contato com o animal trazia bem-estar. A iniciativa tomou corpo, e hoje o projeto social Medicão tem mais de 20 voluntários, entre psicólogos, pedagogos e estudantes, além de 17 cães “terapeutas”.

Fonte: http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/caes_-terapeutas-_ajudam_no_tratamento_de_pacientes_com_cancer_e_deficientes_mentais.html

Efeitos da sedução.

Olhar fotos de mulheres atraentes aumenta agressividade masculina.



Apesar de terem avançado em aspectos sociais e tecnológicos, os humanos ainda conservam alguns instintos como tentar garantir sucesso reprodutivo por meio de disputas físicas. Pelo menos é o que mostra um estudo publicado pelo periódico científico Personality and Social Psychology Bulletin. Uma das pesquisas citadas no trabalho foi coordenada pelo psicólogo Chang Lei: 41 mulheres e 60 homens chineses deviam analisar 20 fotografias de pessoas do sexo oposto, divididas em dois grupos, o dos mais atraentes e o dos menos interessantes. Em seguida, o pesquisador pedia aos voluntários que respondessem a 39 questões relacionadas à possibilidade de a China participar de guerras ou de conflitos comerciais com três países estrangeiros. Ao analisarem as respostas, os pesquisadores observaram que a maior parte dos homens apresentou tendências bélicas depois de ver imagens de moças que julgavam atraentes. O mesmo efeito não foi notado quando as perguntas eram sobre conflitos comerciais. Entre as mulheres as fotografias não exerceram influência em nenhum dos casos.


Em outro experimento, 23 voluntários do sexo masculino viram oito imagens com a bandeira da China e oito com pernas femininas antes de participarem de um teste de computador no qual deveriam identificar a palavra “guerra” o mais rápido que conseguissem. Se fossem motivados por patriotismo, era esperado que os participantes do estudo se saíssem melhor após verem a bandeira de seu país. Mas, na verdade, os mais ágeis foram os que observaram fotografias de pernas de mulheres. Uma possível explicação é que talvez os homens acreditem, mesmo que inconscientemente, que garotas preferem parceiros fortes, capazes de derrotar possíveis “concorrentes”, como acontece em outras espécies.

Fonte: http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/fotos_de_mulheres_bonitas_despertam_agressividade_masculina.html

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Cérebro responde mais rapidamente a imagens de animais .

Sejam gatinhos ou serpentes, segundo estudo do Caltech e da UCLA, cérebro responde rapidamente a imagens de animais.



Enquanto algumas pessoas adoram fotos de filhotes, outras se assustam instantaneamente com a simples imagem de uma cobra ou uma aranha. Em ambos os casos, a reação é causada por duas estruturas do cérebro chamadas amígdalas (não confundir com aquela da garganta), que processam reações emocionais. Um estudo do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) e da Universidade da Califórnia-Los Angeles (UCLA, ambas na sigla em inglês) afirma que a amígdala, inclusive, responde preferencialmente a imagens de animais do que de pessoas, paisagens ou objetos.

Segundo o estudo, publicado na revista especializada Nature Neoscience, pacientes epiléticos, que já tinham a atividade cerebral monitorada, passaram por um experimento: eles viam imagens de pessoas, animais, paisagens ou objetos, enquanto as reações dos neurônios eram monitoradas nas duas amígdalas do cérebro. "Nosso estudo mostra que os neurônios na amígdala humana respondem preferencialmente a imagens de animais, o que significa que a atividade cerebral aumenta quando os pacientes olhavam a gatos ou cobras ao invés de construções ou pessoas", afirma Florian Mormann, um dos autores do artigo que descreve o experimento. "Essa preferência vale tanto para animais bonitinhos como para feios ou perigosos e parece ser independente do conteúdo emocional da imagem. Notavelmente, nós achamos esse comportamento apenas na amígdala direita, e não na esquerda.

Segundo Mormann, a pesquisa reforça achados anteriores que indicam que, no início da evolução dos vertebrados, o hemisfério direito do cérebro era responsável por cuidar de estímulos relevantes e inesperados ou das mudanças de ambiente. O pesquisador afirma ainda que, além de uma melhor compreensão sobre o cérebro, o estudo pode levar a conhecermos melhor as fobias de animais.

Fonte: http://neurocurso.com/neuronews/1294-cerebro-responde-mais-rapidamente-a-imagens-de-animais.html

Na casa de Freud.

A residência ampla e acolhedora, no número 20 da rua Maresfield Gardens, região oeste de Londres, foi a última moradia do criador da psicanálise. Transformado em museu, o espaço guarda mais que objetos pessoais dos antigos moradores – permanece ali um pouco da história de incontáveis analistas e analisandos.



Para muitos pacientes, e para boa parte do público em geral, o psicanalista é uma figura neutra, discreta, reservada, quando não enigmática, de quem se conhece muito pouco. O que tem certo fundamento. No passado, ao menos, muitos psicanalistas temiam o acting out – a expressão de conflitos emocionais, por meio de comportamento impulsivo – e acreditavam que a proximidade com o analisando favoreceria essa “passagem ao ato”. Além disso, alguns profissionais receavam contaminar o tratamento apresentando-se aos pacientes como pessoas comuns. Por causa disso ainda hoje é rara a possibilidade de observar a intimidade de um analista.

Pois é justamente essa oportunidade que nos proporciona uma casa-museu situada no número 20 da rua Maresfield Gardens, no distrito de Hampstead, em Londres. E não se trata da residência de qualquer analista: o morador foi ninguém menos que o criador da psicanálise, Sigmund Freud. Em 1938, depois que a Áustria foi anexada pelos nazistas, ele, relutantemente, deixou Viena, onde vivia e trabalhava (no famoso endereço, Bergasse 19), e transferiu-se com a família para Londres. A mudança foi penosa para o homem idoso e doente – lutando com um câncer, ele viria a falecer em setembro do ano seguinte. Na casa aprazível no noroeste da capital inglesa Freud pôde contar com um ambiente confortável e, muito importante, com o apoio da família. Moravam com ele a esposa, Martha, a cunhada Minna, a empregada, Paula Fichtl, e a filha, e também terapeuta, Anna. Extraordinariamente dedicada ao pai, ela continuou vivendo ali até morrer, em 1982.

A residência, numa região muito tranqüila da movimentada Londres (e bem acessível, através do metrô, pela estação Finchley Road), é semelhante a outras do bairro: ampla, bonita e acolhedora. Nos fundos há um jardim-de-inverno, desenhado pelo arquiteto Ernst, filho de Freud. Surpreendentemente, os nazistas permitiram que o criador da psicanálise levasse boa parte de seus pertences para Londres, de modo que ali podemos ter uma idéia dos objetos com os quais convivia. O aposento que mais chama a atenção é, sem dúvida, o gabinete com a biblioteca – onde, mesmo exilado, continuou atendendo seus pacientes. O idioma não foi problema: ele falava bem inglês, ainda que com forte sotaque, como se pode constatar em um dos documentários exibidos no museu, em que ele faz, no idioma, uma síntese de sua própria trajetória.

É no gabinete que está o divã analítico original, trazido da Bergasse 19. Muito confortável, tem almofadas de chenile e está coberto com um tapete persa ricamente colorido. Sobre a peça há outros tecidos orientais. Para quem já freqüentou consultórios psicanalíticos isto não deixa de chamar a atenção.Por exemplo, quando comecei minha análise, a regra entre os freudianos era atender num ambiente o mais neutro e despido possível. Mas isso, pelo jeito, não preocupava Freud – assim como não o preocupava manter o distanciamento dos pacientes. Quando um deles, o aristocrata russo Sergius Pankejeff, conhecido como “o homem dos lobos” (por causa do famoso sonho em que via esses animais encarapitados em árvores, sonho esse retratado num desenho exposto no museu), ficou financeiramente arruinado, Freud lançou uma espécie de campanha no círculo analítico para ajudá-lo. Ou seja, tratava seus pacientes, ou pelo menos alguns deles, de forma especial. E talvez o divã, com seus tecidos e tapetes, desse testemunho disso.



Há mais, porém. No gabinete existem numerosas peças antigas, gregas, romanas, egípcias e do Oriente, algumas obtidas em sítios arqueológicos, a maioria adquirida de antiquários de Viena. A coleção completa totaliza mais de 2 mil objetos. Freud afirmava que sua paixão por antigüidades só era superada pela atração pelos charutos – enfatizando, contudo, que nem sempre esses últimos podiam ser considerados símbolos fálicos. Para Freud, a exploração arqueológica era uma metáfora para a investigação psicanalítica. E as diferentes culturas da Antigüidade tinham para ele significados diferentes. A cidade de Roma, sede do cristianismo, por exemplo, o perturbava. Não por acaso adiou várias vezes sua viagem para lá. Uma das coisas que então o fascinou foi a escultura do Moisés, de Michelangelo, na igreja de San Pietro in Vincoli. Em 1939, ano de sua morte, publicou uma de suas obras mais controversas, Moisés e o monoteísmo.



O dono da casa era um leitor voraz. Sua biblioteca inclui livros de psicanálise, medicina, psicologia, ciências biológicas, filosofia. Ganham destaque autores como Charles Darwin, Jean-Martin Charcot e Richard von Krafft-Ebing. Como seria de esperar, são numerosos os textos sobre arqueologia. Mas ali encontramos também grandes obras literárias: Johann Goethe, William Shakespeare, Gustave Flaubert, Heinrich Heine, Nikolai Gogol, Anatole France. Freud dizia que, antes mesmo da psicanálise, poetas e ficcionistas já exploravam os meandros do inconsciente. Em Os dez amigos de Freud, o brasileiro Sérgio Paulo Rouanet estuda as obras prediletas do psicanalista – que, aliás, foi contemplado com o Goethe, famoso prêmio literário oferecido pela cidade de Frankfurt. Mas só uma parte de seus livros estão no museu; muitos foram adquiridos pelo New York State Psychiatric Institute e estão agora na Universidade Columbia, em Nova York. Outros foram doados para a Biblioteca do Congresso, em Washington. Num pequeno número de volumes encontra-se um “ex libris”, um selo pessoal de proprietário – dado a Freud por um discípulo – e que representa, claro, Édipo diante da Esfinge. A mesma imagem aparece em uma gravura de parede. Ali estão também retratos de Jean-Martin Charcot, sua mulher, Martha, e as amigas Lou Andreas- Salomé e Marie

RECORDAÇÕES DE ANNA

A casa também guarda recordações de Anna Freud, que ali viveu 44 anos: permanece exposto, por exemplo, o tear que ficava no seu quarto de dormir. Como Penélope esperando Ulisses, Anna usava parte de seu tempo tecendo; e tricotava durante as sessões de seus pacientes, o que, de novo, é algo surpreendente segundo os critérios de hoje. A mais nova dos seis filhos de Sigmund e Martha Freud, ela foi uma criança rebelde, que tinha muito ciúme da irmã Sophie. Quando esta casou, Anna suspirou aliviada; como escreveu ao pai, esperava que “agora as brigas entre ambas cessassem”. Anna nunca se casou. Concluiu seus estudos, iniciou a carreira como professora e, em 1918, começou sua formação psicanalítica analisando-se com o pai, o que atualmente seria considerado estranho, mas na época era algo perfeitamente aceito. Especializou-se em análise infantil e escreveu muito a respeito do tema; deu a seu trabalho uma importante dimensão social e dirigiu instituições psicanalíticas.



Foi decisão de Anna transformar a residência da família em um museu que honrasse a memória de seu pai – o que aconteceu em 1986. Há outros dois museus Freud, um em Viena, outro em Pribor, República Tcheca, na casa onde ele nasceu. Mas o de Londres vale uma visita. É como descobrir os bastidores da psicanálise.

O príncipe do Egito

Freud lera algo, em trabalhos sobre egiptologia, sobre o príncipe Thotmes, que poderia, a seu juízo, ser Moisés; achou que o assunto deveria ser aprofundado por meio de pesquisa, mas não chegou a fazer isso. Não é difícil entender o conflito que o tema representava para ele, sintetizado na primeira frase do livro: “Privar um povo do homem celebrado como o maior de seus filhos não é um empreendimento gratificante ou fácil, principalmente quando se é parte desse mesmo povo”. A isso se deve acrescentar a circunstância histórica: colocar em juízo uma figura exponencial do judaísmo numa época de feroz anti-semitismo seria, no mínimo, uma inconveniência. Isso, no entanto, não dissuadiu Freud de seu propósito: “Nenhuma ponderação poderia induzir-nos a faltar à verdade”.

Ele começa discutindo a idéia de que Moisés era egípcio. O nome viria do termo egípcio mose, menino; Ptah-mose, por exemplo, significa o menino (ou o filho) de Ptah. Tal idéia estava longe de ser nova. Já tinha sido aventada por historiadores da Antigüidade, como Estrabão e Celso, pelo sociólogo alemão Max Weber e por pesquisadores bíblicos como John Tolland, isso sem falar nas alusões ao tema na obra dos psicanalistas Otto Rank e Karl Abraham. A ser verdadeira esta suposição, o monoteísmo dos hebreus seria uma forma de religião egípcia. Como se processou tal transformação? Em Totem e Tabu Freud descrevera a horda primitiva matando o pai, o macho mais forte, devorando-o e mais tarde cultuando-o. Em Moisés e o monoteísmo o tema do assassinato reaparecerá. Moisés, nobre egípcio, introduz os judeus, que viviam em servidão, ao culto monoteísta e intolerante de Aton, nome cuja semelhança ao de Adonai (uma das formas de tratamento para Deus, em hebraico) o autor nota. Moisés conduz o povo para fora do Egito, mas é assassinado – idéia que Freud tomou do erudito Ernst Sellin. O povo judeu passa a adorar Jeová, uma divindade do deserto considerada cruel e vingativa, até que um novo profeta, assumindo o nome de Moisés, apresenta uma religião, também monoteísta, mas baseada em princípios morais.

Diz Peter Gay, biógrafo de Freud: “Um fundador assassinado por seus seguidores, incapazes de se alçarem a seu nível, mas herdando as conseqüências do crime e se corrigindo sob o peso de suas lembranças – não podia haver nenhuma fantasia mais talhada para Freud. Tocava-o mais de perto o fato de se considerar o criador de uma psicologia subversiva, agora se aproximando do fim de uma longa e encarniçada carreira que encontrara sólidos e constantes obstáculos, por parte de inimigos abusivos e desertores covardes”.

Moisés e o monoteísmo foi, de maneira geral, mal recebido nos círculos judaicos, religiosos ou não. O filósofo Martin Buber rotulou-o como “um escrito não-científico, baseado em hipóteses infundadas”. Nos grupos cristãos a rejeição não foi menor, já que a análise de Freud não se restringe ao judaísmo. O assassinato de Moisés, diz, só veio aumentar o fardo da culpa ancestral carregada pelos judeus, e que começa com a noção do pecado original. Essa culpa, porém, ultrapassou os limites grupais; ela “se tinha apoderado de todos os povos do Mediterrâneo, como um vago mal-estar, como uma premonição cataclísmica”. O cristianismo proporcionou uma válvula de escape a esta opressiva situação, afirma Freud. O judeu Saulo de Tarso, depois chamado Paulo, deu-se conta de que o sacrifício de Jesus, filho de Deus, representaria oportunidade de expiação coletiva da culpa. (M. S.)


Anns Freud aos 14 anos e seu pai.


PARA CONHECER MAIS
Freud – Uma vida para o nosso tempo. Peter Gay. Companhia das Letras, 1989.

Os dez amigos de Freud: 2 volumes. Sergio Paulo Rouanet. Companhia das Letras, 2003.


Fonte: http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/na_casa_de_freud.html

O QUE É EPILEPSIA.

O site da Liga Brasileira de Epilepsia apresenta para os leitores um texto elucidativo que procura esclarecer, de maneira bem simples, o que é a epilepsia.
É claro que o conhecimento acerca desta doença é muito mais amplo, tanto no que diz respeito ao diagnóstico e evolução dos pacientes, mas fica aqui uma pequena definição.



O que é epilepsia?


Definição

É uma alteração temporária e reversível do funcionamento do cérebro, que não tenha sido causada por febre, drogas ou distúrbios metabólicos. Durante alguns segundos ou minutos, uma parte do cérebro emite sinais incorretos, que podem ficar restritos a esse local ou espalhar-se. Se ficarem restritos, a crise será chamada parcial; se envolverem os dois hemisférios cerebrais, generalizada. Por isso, algumas pessoas podem ter sintomas mais ou menos evidentes de epilepsia, não significando que o problema tenha menos importância se a crise for menos aparente.


Sintomas

Em crises de ausência, a pessoa apenas apresenta-se "desligada" por alguns instantes, podendo retomar o que estava fazendo em seguida. Em crises parciais simples, o paciente experimenta sensações estranhas, como distorções de percepção ou movimentos descontrolados de uma parte do corpo. Ele pode sentir um medo repentino, um desconforto no estômago, ver ou ouvir de maneira diferente. Se, além disso, perder a consciência, a crise será chamada de parcial complexa. Depois do episódio, enquanto se recupera, a pessoa pode sentir-se confusa e ter déficits de memória. Tranqüilize-a e leve-a para casa se achar necessário. Em crises tônico-clônicas, o paciente primeiro perde a consciência e cai, ficando com o corpo rígido; depois, as extremidades do corpo tremem e contraem-se. Existem, ainda, vários outros tipos de crises. Quando elas duram mais de 30 minutos sem que a pessoa recupere a consciência, são perigosas, podendo prejudicar as funções cerebrais.


Causas

Muitas vezes, a causa é desconhecida, mas pode ter origem em ferimentos sofridos na cabeça, recentemente ou não. Traumas na hora do parto, abusos de álcool e drogas, tumores e outras doenças neurológicas também facilitam o aparecimento da epilepsia.


Diagnóstico

Exames como eletroencefalograma (EEG) e neuroimagem são ferramentas que auxiliam no diagnóstico. O histórico clínico do paciente, porém, é muito importante, já que exames normais não excluem a possibilidade de a pessoa ser epiléptica. Se o paciente não se lembra das crises, a pessoa que as presencia torna-se uma testemunha útil na investigação do tipo de epilepsia em questão e, conseqüentemente, na busca do tratamento adequado.


Cura

Em geral, se a pessoa passa anos sem ter crises e sem medicação, pode ser considerada curada. O principal, entretanto, é procurar auxílio o quanto antes, a fim de receber o tratamento adequado. Foi-se o tempo que epilepsia era sinônimo de Gardenal, apesar de tal medicação ainda ser utilizada em certos pacientes. As drogas antiepilépticas são eficazes na maioria dos casos, e os efeitos colaterais têm sido diminuídos. Muitas pessoas que têm epilepsia levam vida normal, inclusive destacando-se na sua carreira profissional.


Outros Tratamentos

Existe uma dieta especial, hipercalórica, rica em lipídios, que é utilizada geralmente em crianças e deve ser muito bem orientada por um profissional competente. Em determinados casos, a cirurgia é uma alternativa.


Recomendações

Não ingerir bebidas alcoólicas, não passar noites em claro, ter uma dieta balanceada, evitar uma vida estressada demais.


Crises

Se a crise durar menos de 5 minutos e você souber que a pessoa é epiléptica, não é necessário chamar um médico. Acomode-a, afrouxe suas roupas (gravatas, botões apertados), coloque um travesseiro sob sua cabeça e espere o episódio passar. Mulheres grávidas e diabéticos merecem maiores cuidados. Depois da crise, lembre-se que a pessoa pode ficar confusa: acalme-a ou leve-a para casa.


Alguns factores que podem desencadear crises epilépticas:


1. Mudanças súbitas da intensidade luminosa ou luzes a piscar (algumas pessoas têm ataques quando vêem televisão, jogam no computador ou frequentam discotecas);
2. Privação de sono;
3. Ingestão de bebidas alcoólicas;
4. Febre;
5. Ansiedade;
6. Cansaço;
7. Ingestão de algumas drogas e medicamentos.


“Em todos os países, a epilepsia representa um problema importante de saúde pública, não somente pela sua elevada incidência, mas também pela repercussão da enfermidade, a recorrência das suas crises, além do sofrimento dos próprios pacientes devido às restrições sociais que na maioria das vezes são injustificadas” – afirma um neurologista, que também é professor da Universidade de Guadalajara, no México.


Ao contrário do que muitos pensam, a epilepsia não é incurável, existem tratamentos com medicamentos e cirurgias capazes de controlar e até curar a epilepsia. Os principais medicamentos utilizados são a Fenobarbital, Fenitoína, Valproato, Carbamazepina e Depakine.


Grandes personalidades com epilepsia:
- Fiódor Dostoievski (escritor russo);
- Alexandre o Grande (rei macedónico);
- Alfred Nobel (inventor da dinamite e do prémio Nobel);
- Napoleão Bonaparte (imperador francês).


“Sim, eu tenho a doença das quedas, a qual não é vergonha para ninguém. E a doença das quedas não impede a vida.” – Fiódor Dostoievski

Fontes: http://www.epilepsia.org.br/site/epilepsia.php
http://www.epilepsia.org.br/site/epilepsia.php

domingo, 27 de novembro de 2011

Corrente elétrica no cérebro acelera aprendizado .



Estimular eletricamente o cérebro pode ajudar a aumentar a velocidade do aprendizado, segundo especialistas britânicos. Eles dizem que aplicar uma corrente elétrica de baixa intensidade em uma parte específica do cérebro pode aumentar sua atividade, tornando o aprendizado mais fácil. Os pesquisadores, da University of Oxford, na Inglatarra, estudaram cérebros de pacientes que sofreram derrames e de adultos saudáveis. Os resultados da pesquisa foram apresentados durante o British Science Festival, na cidade inglesa de Bradford. A equipe, liderada pela professora Heidi Johansen-Berg, usou uma tecnologia conhecida como ressonância magnética funcional para monitorar a atividade nos cérebros de pacientes que sofreram derrames enquanto tentavam recuperar sua capacidade motora, perdida como resultado da doença. Uma das principais revelações do estudo foi a de que o cérebro é muito flexível e pode se reestruturar, desenvolvendo novas conexões e alocando tarefas para áreas diferentes quando ocorre algum problema ou quando uma tarefa nova é realizada. Como parte do estudo, os especialistas também investigaram a possibilidade de usar estimulação elétrica não invasiva do cérebro para melhorar o processo de recuperação da capacidade motora. Melhorias a curto prazo já haviam sido constatadas em pacientes que tinham sofrido derrames. Mas um resultado inesperado foi verificado quando os mesmos estímulos foram feitos nos cérebros de adultos saudáveis: a velocidade de aprendizado desses indivíduos também aumentou consideravelmente. Aumento de atividadePara observar esse efeito, a equipe criou um experimento em que voluntários memorizavam uma sequência de botões para apertar, "como se aprendessem a tocar uma melodia no piano". Enquanto faziam isso, recebiam, por meio de dois eletrodos colocados em pontos específicos de suas cabeças, estímulos por corrente transcraniana. Uma corrente de intensidade muito pequena foi passada entre os eletrodos formando um arco que passava dentro do cérebro e, dependendo da direção da corrente, ela aumentava ou diminuía a atividade naquela parte do cérebro. Johansen-Berg explicou que "um aumento na atividade das células do cérebro as torna mais suscetíveis ao tipo de mudança que ocorre durante o aprendizado". O s resultados do experimento que envolvia apertar os botões em sequência demonstraram os efeitos positivos, em termos do aprendizado, de apenas dez minutos de estímulos ao cérebro, em comparação a um experimento "placebo" no qual não houve estímulo elétrico. "Os estímulos não melhoraram o desempenho máximo do participante, mas a velocidade com a qual ele alcançava seu ponto de desempenho máximo foi aumentada significativamente", disse Johansen-Berg. Direcionar o estímulo à área do cérebro que controla a atividade motora permite que tarefas envolvendo movimentos sejam aprendidas mais rápido, e os pesquisadores acreditam que a técnica possa ser usada para auxiliar o treinamento de atletas. Os experimentos demonstram explicitamente que estimular o córtex motor do cérebro pode aumentar a velocidade do aprendizado de funções motoras. Os pesquisadores dizem ter esperanças de que o mesmo método possa ser aplicado a outras partes do cérebro para melhorar o aprendizado na educação, simplesmente posicionando-se os eletrodos em locais diferentes de forma que a corrente possa ser direcionada à área correta. Em função da relativa simplicidade, baixo custo (cerca de US$ 3 mil por unidade) e portabilidade da tecnologia, a equipe acha possível que - após mais pesquisas - aparelhos sejam criados especificamente para uso em casa. No futuro, Johansen-Berg e sua equipe pretendem investigar as possibilidades de se aumentar o efeito da técnica por meio de estímulos diários durante períodos de algumas semanas ou meses. No tratamento de pacientes que sofreram derrames, a técnica poderia ser usada em associação com tratamentos atuais de fisioterapia para melhorar o quadro geral da recuperação dos pacientes, que tende a variar bastante.

Fonte: http://neurocurso.com/neuronews/1293-corrente-eletrica-no-cerebro-acelera-aprendizado.html

SÍNDROME DE STURGE-WEBER: RELATO DE CASO CLÍNICO.



A síndrome de Sturge-Weber é uma malformação congênita, de etiologia desconhecida,
caracterizada pela presença de angiomatose da leptomeninge e da face A angiomatose encefalotrigeminal, mais comumente conhecida como síndrome de Sturge- Weber, foi descrita primeiramente por Schirmer (1860) e posteriormente especificada por Sturge
(1879) e complementada por Weber (1922). É uma síndrome rara onde existe uma estimativa que a freqüência seja em torno de 1/50000 nascimentos, porém é a mais
freqüente das síndromes neurocutâneas, com o predomínio de anomalias vasculares. Caracteriza-se por uma angiomatose corticocerebral, calcificações cerebrais, epilepsia, afecções oculares, retardo mental e nevo facial, com coloração de vinho do Porto na face.

Pode-se clicar aqui no link para visualização de um relato de caso de paciente com a síndrome de Sturge-Weber.

Fonte: http://www.revistacirurgiabmf.com/2004/v4n1/pdf/v4n1.6.pdf

sábado, 26 de novembro de 2011

Simpósio de Atualização no Tratamento da Epilepsia.



Foi realizado neste último sábado, dia 26 de novembro, o Simpósio de Atualização no Tratamento da Epilepsia, realizado no Hotel Oásis Atlântico, Fortaleza - CE.
Organizado pela SOCENNE, o simpósio contou com a participação dos palestrantes Dra. Vera Cristina Terra, da USP - RP; Dra. Adélia Henriques Sousa, HR - IMIP, PE; Dr. Ricardo Amorim Leite, HR, PE.
As palestras, muito bem ministradas, debateram temas como: Princípios do tratamento da epilepsia; Epilepsia na infância e adolescência: como eu trato?; Epilepsia no adulto e em condições especiais: como eu trato?; Tratamento do estado de mal epiléptico; Cirurgia como tratamento da epilepsia refratária.
Quatro ligantes da Neuruece participaram do evento, prestigiando as palestras e melhorando seus conhecimentos.

Cientistas conseguem reproduzir imagens armazenadas no cérebro .



Cientistas utilizaram um scanner e um computador para decodificar e reconstruir imagens de um filme assistido previamente por três indivíduos, em um procedimento que poderá, no futuro, ajudar pessoas com dificuldades de comunicação. O estudo foi publicado na revista americana Current Biology nesta quinta-feira. Até o momento, a técnica que combina imagens por ressonância magnética (IRM) e padrões informáticos pôde apenas reconstituir extratos dos filmes assistidos pelos voluntários da experiência, mas o método abre caminho para uma tecnologia capaz de ler imagens no cérebro - como sonhos ou "filmes" da memória -, destacaram os cientistas da Universidade da Califórnia em Berkeley. "É um passo importante para a reconstrução de imagens no cérebro", disse o professor Jack Gallant, neurologista da Universidade e um dos autores do estudo. "Abrimos uma janela aos "filmes" projetados em nossa mente". No futuro, esta tecnologia poderá permitir uma melhor compreensão do que se passa na mente das vítimas de ataques cerebrais, de pessoas em coma ou de vítimas de doenças neurodegenerativas incapazes de se comunicar. Também poderá facilitar a criação de uma máquina capaz de se comunicar diretamente com o cérebro, permitindo a pessoas sem capacidade motora comandar instrumentos apenas com a mente, segundo o professor Gallant.

Fonte: http://neurocurso.com/neuronews/1291-cientistas-conseguem-reproduzir-imagens-armazenadas-no-cerebro.html

Cura pela melodia.



Em todas as culturas, sociedades e épocas, considera-se que a música detém um poder específico sobre a alma, a consciência e os sentimentos dos indivíduos e da coletividade, qualquer que seja a forma que a atividade musical assume na realidade histórica e social concreta. Todos já experimentamos esse poder caprichoso: a audição casual de um trecho de canção, as notas de uma sonata clássica ou um solo jazzístico de piano atingem, com precisão misteriosa, zonas de nossa memória e de nossa sensibilidade até então na sombra. Somos assim inesperadamente – e de boa vontade – dominados por uma emoção pura inominável – e familiar.

Somos tentados a pensar a música como uma potência que escapa às hierarquias e generalizações, um domínio indiferenciado e caótico: afinal, essa experiência parece ser pessoal, embora compartilhada por milhões de pessoas, e, além disso, qualquer que seja o tipo de música, o resultado não é alterado (nesse campo, Bach vale tanto quanto Laura Pausini). Não devemos, porém, subestimar esse poder universal, tantas vezes identificado como uma das marcas fundamentais da natureza humana, sobretudo quando ele tem a possibilidade de alterar os estados de consciência das pessoas. É o que ocorre, por exemplo, na terapia de dança e música do tarantulismo, que realiza rituais antiguíssimos, e em experiências de possessão do êxtase ativadas por sons, presentes em todo o mundo, da Terra do Fogo à Sibéria, do Brasil ao Vietnã.

O som governa a mente do homem e os deuses não são estranhos a esse atributo, se é verdade que, nos diversos mitos de criação, sempre que a gênese do mundo é descrita com suficiente precisão, um elemento acústico intervém no momento decisivo da ação: no instante em que a entidade divina manifesta sua vontade de criar o céu, a terra, os homens e todas as coisas, ela emite um som, muitas vezes cantando ou tocando um instrumento.

Os poderes dignos de uma divindade parecem se transferir a essa forma de expressão difusa em todas as culturas, capaz de suscitar emoções profundas, comover, entristecer, excitar e até promover a cura: o xamã africano reanima o jovem debilitado tocando ao seu lado um pequeno tambor, com um ritmo progressivamente idêntico ao do coração do rapaz, depois o alterando até atingir o correto batimento cardíaco. Sugestão? Talvez, mas, sobretudo, uma questão de ritmo, como no caso do baterista que arrebata o público.

O som musical, integrado no sistema de representações que lhe confere seu poder específico, surpreende não só porque intervém de modo direto no estado de consciência do indivíduo, mas, ainda mais, por sua capacidade de influenciar coletivamente o comportamento das pessoas. Os mais de 700 mil jovens europeus que tomaram as ruas da Berlim unificada dos anos de 1990, não para “mudar o mundo”, mas para experimentar, por horas, o impressionante rito pós-moderno da rave mais gigantesca da história, foram protagonistas, testemunhas e herdeiros inconscientes de uma vivência de estimulação psico-motora coletiva não muito distante da produzida pelos ritos ligados aos transes dionisíacos, dessa vez induzidos pelo som implacável da música techno. O som e o ritmo eram encantatórios, como o dos xamãs, talvez potencializado pelo álcool e outras substâncias: mas esta também é uma história antiga...

É evidente que a música “excita as almas”. Daí a desconfiança geral, a má reputação de certas práticas musicais para as instituições, em todas as épocas e regimes: atraente, universal e perigosa, a complexa questão da música é por vezes rebaixada a simples problema de ordem pública.

A universalidade da resposta individual e coletiva aos poderes da música significa que esta corresponde a uma disposição psicofísica inata da natureza humana, mais ou menos desenvolvida dependendo da pessoa. Haveria algo como uma “mente musical”? E, caso exista, quais são os processos psíquicos e fisiológicos ativados na produção e audição de um trecho musical?

Os progressos da pesquisa científica sobre o cérebro geraram conhecimentos a respeito do “onde” e do “como”: sabemos que o hemisfério direito é o “lócus musicalis” da tonalidade, do timbre e da harmonia, enquanto outros aspectos da música, como o ritmo, pertencem ao hemisfério esquerdo. Essa descoberta e muitas outras não bastam, todavia, para afirmarmos que a ciência explicou a criatividade musical e seus poderes, destinados, em alguma medida, a permanecer ocultos. Em particular, o “porquê” da música permanece fora do horizonte da demonstração científica.

O artista tem o conhecimento da arte e a mão tremente, escreveu Dante no Canto XIII do Paraíso: isto é, o artista possui a técnica, o habitus, o domínio de sua arte, mas só é artista em razão daquele “tremor”, que não pode ser calculado ou dominado, aquela hesitação sem a qual nada ocorre e sem a qual a arte não é possível. É em virtude desse tremor que a arte, e, portanto, a música, escapa a qualquer forma excessiva de controle racional. O poder da música jamais foi plenamente demonstrado pela ciência, mas sempre foi descrito: comunidades das mais diversas tradições e culturas não só descreveram e aceitaram esse poder, mas empenharam-se em celebrá-lo coletivamente, com seus rituais, danças, cantos, corpos e instrumentos. Para todas elas e um pouco para todos nós parece valer a célebre observação de Friedrich Nietzsche: sem música, a vida seria um erro.

Fonte: http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/cura_pela_melodia.html

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Por que dói tanto ficar longe de quem amamos?



Ficar longe da pessoa amada incomoda. Quando a saudade é muito grande sentimos como se faltasse algo em nós. Quem já passou por isso sabe que a angústia causada pela distância do objeto de amor e desejo pode levar ao aumento da ansiedade, desencadear perturbações do sono e, em casos mais graves, deflagrar a depressão. Essas reações intrigaram cientistas que estão desenvolvendo pesquisas para identificar os mecanismos neuroquímicos por trás desses efeitos psicológicos. Um estudo recente trabalhou com arganazes-do-campo, roedores corpulentos de cauda curta, que foram separados de suas parceiras por quatro dias. Durante esse período, os animais exibiram comportamento semelhante à depressão e aumento da corticosterona, o equivalente, nesses animais, ao cortisol, o hormônio do stress em humanos. Machos que foram separados de seus irmãos não mostraram quaisquer desses sintomas, sugerindo que a resposta era relacionada, especificamente, à separação dos parceiros sexuais – e não a situações de isolamento social. Quando receberam uma droga que bloqueou a liberação da corticosterona, os roedores pararam de exibir o comportamento depressivo pós-separação, confirmando que os hormônios estavam na raiz do problema.

Os efeitos do afastamento dos parceiros lembram, em alguns aspectos, a abstinência de drogas. “Mesmo em um curto prazo, a separação deflagra um estado aversivo ao meio, que faz com que os arganazes-do-campo procurem seus parceiros para não perder o vínculo”, diz o neurocientista comportamental Larry Young, do Centro de Pesquisas Nacionais em Primatas da Universidade de Emory e co-autor do estudo. Outras pesquisas mostram que animais monogâmicos, que coabitam e se reproduzem, têm níveis aumentados de oxitocina, vasopressina e dopamina – hormônios que estimulam as ligações emocionais – em áreas do cérebro associadas à recompensa.

Em um experimento com separação de casais humanos por um período de 4 a 7 dias, a psicóloga social Lisa Diamond, da Universidade de Utah, observou sintomas leves de abstinência, como irritabilidade e perturbações do sono, aumento no nível de cortisol. Os voluntários que relataram maior ansiedade apresentaram picos nos níveis de cortisol. Mesmo os que apresentaram baixos índices de stress tiveram, em algum grau, níveis mais altos de cortisol e desconforto físico no período de afastamento, em comparação a quando estavam com seus pares. Esses resultados, assim como os encontrados nos estudos de Young, indicam uma ligação específica entre separação e aumento do cortisol. Para pesquisadores, isso significa que, no futuro, podem ser desenvolvidas drogas que bloqueiem esse hormônio e ajudem as pessoas a se desligar de um parceiro.

Estudos mostram que o laço entre pares evolui com base na ligação entre pais e filhos e a separação nos remete a sentimentos antigos de rejeição, vividos nos primórdios da infância. Embora a maioria dos adultos não se recorde, quando as figuras parentais (que eram nosso universo) se afastavam e surgia a possibilidade de perdê-las, sobrevinha uma angústia extrema, só aplacada com o reencontro – o que pode explicar porque sentimos as conexões atuais de forma tão intensa. As mesmas substâncias neuroquímicas – oxitocina, vasopressina e dopamina – têm sido associadas a ambos os relacionamentos. “As relações românticas adultas e os relacionamentos entre pais e filhos são fundamentalmente diferentes, mas ambas apresentam a mesma proposta funcional: criar um direcionamento psicológico para o outro, querer cuidar de alguém e resistir a separação”, explica Lisa Diamond. Seus futuros estudos sobre ligações românticas, assim como os de Young, devem focar o desenvolvimento de tratamentos para o sofrimento associado à separação do parceiro ou a perda, bem como os transtornos que envolvem déficits sociais, como esquizofrenia e autismo.

Fonte: http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/por_que_doi_tanto_ficar_longe_de_quem_amamos_.html

Bocejar pode ser mecanismo para resfriar cérebro, diz estudo .

Bocejar pode ser um mecanismo de resfriamento do cérebro, sugere um estudo realizado na universidade de Princeton, nos Estados Unidos.



A pesquisa reforça a tese de que a temperatura dos cérebros é regulada com a troca de calor com o meio ambiente por meio dos bocejos. Os pesquisadores documentaram a frequência dos bocejos em 160 voluntários no estado americano do Arizona durante um verão e um inverno. Eles concluíram que as pessoas tendem a bocejar duas vezes mais no inverno, quando a temperatura externa é muito menor do que a dos seus corpos. Isto porque o ar mais quente do verão, quando a temperatura é parecida com a dos corpos, não proporcionaria tanto alívio para cérebros superaquecidos.

Andrew Gallup, que liderou a pesquisa, diz que a temperatura cerebral é influenciada pela quantidade de processamentos que o cérebro tem que fazer, a temperatura do sangue e a velocidade com que este sangue corre pelo órgão. Ele diz que cérebros superaquecidos também causam a sensação de tontura, o que explicaria porque bocejamos quando estamos com sono. "Quando sua temperatura é mais alta você tende a se sentir mais cansado. Pouco antes de dormir, a temperatura do seu corpo é a mais alta do dia", diz ele.

Ele diz que o estudo "é o primeiro que mostra que bocejos variam de acordo com a estação do ano". "As implicações são intrigantes, não só em termos de conhecimento básico de fisiologia, mas para entendermos melhor doenças como esclerose múltipla e epilepsia, que são geralmente acompanhadas por bocejos frequentes e disfunção termorregulatória."

Um estudo anterior em ratos, publicado no ano passado e que teve a participação de Gallup, indicou que os bocejos são deflagrados pelo aumento rápido na temperatura do cérebro, que diminui após a atividade.

Fonte: http://neurocurso.com/neuronews/1290-bocejar-pode-ser-mecanismo-para-resfriar-cerebro,-diz-estudo.html

Quanto mais simples melhor.

Pesquisadores investigam a complexa relação entre esforço, motivação e cognição; aparentemente, nosso cérebro confunde facilidade em ler instruções sobre tarefas com a simplicidade de sua execução



O cartunista americano Rube Goldberg (1883-1970) ficou conhecido por ser o criador das “máquinas de Goldberg”. Cada uma de suas invenções cômicas mostrava um conjunto de instruções complexas para realizar o que deveria ser uma tarefa cotidiana simples. Seu “guardanapo automático”, por exemplo, apresentava 13 passos sequenciais, envolvendo um papagaio, um acendedor de charutos, um foguete e uma foice – junto com diversos elásticos, tiras e pêndulos. As charges se tornavam engraçadas porque, com bom humor, cutucavam uma ironia fundamental da psicologia humana: não raro, as pessoas tendem a tornar tarefas simples mais complicadas do que o necessário.

Na realidade, o oposto, em geral, também é verdadeiro: as confusas regras de “como fazer” de Goldman podem nos fazer rir, mas também nos deixam exaustos. Se for necessário fazer tudo aquilo para usar um guardanapo, por que tentar? Alguns psicólogos estão muito interessados em descobrir mais sobre a complexa relação entre esforço, motivação e cognição – a facilidade com a qual pensamos sobre tarefas. É possível que a simplicidade (ou complexidade) com a qual uma atividade é descrita e processada, de fato, afete nossa atitude com relação a essa atividade e, por fim, nossa vontade de realizá-la.

Dois psicólogos da Universidade de Michigan, em Ann Arbor, nos Estados Unidos, decidiram investigar essa ideia em laboratório. O desafio de Hyunjin Song e Norbert Schwarz era conseguir motivar um grupo de universitários de 20 anos a praticar atividade física regularmente. Eles deram instruções escritas aos voluntários para que estabelecessem uma rotina com exercícios regulares, mas utilizaram um método para tornar as orientações de “como fazer” cognitivamente agradáveis ou desafiadoras: alguns alunos receberam as instruções escritas com a fonte Arial, plana e desenvolvida para facilitar a leitura; outros receberam em fonte Brush, que, basicamente, parece letra manuscrita com um pincel japonês, o que dificulta a leitura. Depois que os alunos haviam lido as instruções, os pesquisadores perguntaram a eles, por exemplo, quanto tempo acreditavam que levaria a conclusão das atividades, se fluiria naturalmente ou pareceria não ter fim, se seria chata ou interessante. Eles também questionaram sobre a probabilidade de tornar os exercícios parte de sua rotina.

As descobertas foram surpreendentes: os que haviam lido as instruções em uma fonte simples estavam mais dispostos a realizar a tarefa – acreditavam que duraria pouco tempo e que fluiria de maneira fácil. E mais importante, eles tinham mais vontade de tornar o exercício parte da rotina. Aparentemente, o cérebro dos estudantes confundiu a facilidade em ler sobre os exercícios com facilidade para realizar flexões e abdominais, e essa confusão motivou-os a pensar em uma mudança de vida. Os que brigaram com as pinceladas japonesas não tinham a menor intenção de ir à academia; a leitura, por si só, já os deixou cansados. Song e Schwarz decidiram verificar novamente esses resultados, com outra pesquisa, envolvendo outra atividade: a culinária.

Novamente usaram uma fonte mais clara e outra rebuscada. Mas, nesse caso, as instruções ensinavam a fazer um rolinho de sushi. Depois que os voluntários leram a receita, deveriam estimar o tempo para execução do prato e se estavam ou não inclinados a fazê-lo. Os resultados foram basicamente os mesmos, conforme publicado no periódico Jornal de ciência psicológica: aqueles que leram as instruções com uma aparência mentalmente desafiadora acharam que a tarefa seria demorada e necessitaria de alto nível de habilidades culinárias; os participantes observaram a estranheza da escrita como sendo da própria tarefa e, como resultado, tentaram evitá-la. Já aqueles que receberam informações de forma mais direta ficaram bastante dispostos a ir para a cozinha. Conclusão: o cérebro emprega todos os tipos de truques e atalhos para que o indivíduo atravesse o dia com o mínimo de esforço físico e mental, mas é bom prestar atenção nesses julgamentos automáticos. Se não forem verificados, a tendência de confundir pensamentos e ações pode levar a opções duvidosas, que parecem ser mais fáceis e desejáveis do que de fato são, ou pode afastar de escolhas saudáveis e da exploração criativa.

Fonte: http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/quanto_mais_simples_melhor.html

O pacto com o diabo e a vida eterna.

Pacientes com a síndrome de Cotard, um tipo raríssimo de delírio de negação, têm certeza de que já estão mortos – e com isso, cultivam a ilusão da imortalidade.



“Estou morta. Não sou nada. Nunca serei nada. Estou completamente morta. Sou uma morta-viva; meu corpo é apenas poeira. Logo minhas pernas não me carregarão mais... Meus pulmões são de um cadáver. Podem me radiografar que não encontrarão nada. Dentro do meu corpo há apenas pó. Sou um cadáver que anda para que ninguém me enterre... Não há mais dinheiro para me enterrar. É preciso me jogar na vala comum. Sou um cadáver que anda, uma morta-viva, uma morta que ressuscitou três vezes. Sou imortal... sou um cadáver grávido. Ando para alimentar o bebê, que também está morto. Engravidaram um cadáver... e eu estou muito, muito gorda.”

O diálogo fragmentado da paciente do psiquiatra francês Jules Cotard (1840-1889) parece saído de algum filme de terror. Mas não haveria surpresa se essas palavras fossem cunhadas por escritores como Fernando Pessoa, Edgar Alan Poe ou Machado de Assis. Felizmente nem o grande poeta português nem o magistral escritor brasileiro navegaram nas sombrias águas do delírio de negação. Alguns biógrafos, porém, atribuíram sintomas semelhantes a Poe, no final de sua conturbada carreira de poeta e contista genial.

O curioso é que quando alguém diz - e acredita – que morreu confere a si mesmo a epígrafe da imortalidade. Para os psiquiatras, a certeza do paciente de que está morto é conhecido como delírio de negação ou de imortalidade. O principal responsável pela descrição e divulgação dessa raríssima síndrome foi Cotard, que se imortalizou com a descrição da síndrome que leva seu nome. Sua notoriedade na psiquiatria do seu tempo passou à literatura ao ser transformado em personagem de Proust, citado logo na abertura do romance À sombra das raparigas em flor.



Em 28 de junho de 1880, em sessão da Société Médico-psychologique de Paris, Cotard apresentou o caso de uma mulher de 43 anos que acreditava que “não tinha cérebro, nervos, seios ou entranhas, que era somente pele e osso e que nem Deus e o diabo existem”. Dizia não necessitar de alimentos porque “era eterna e viveria para sempre”. Havia pedido para ser queimada viva e fizera várias tentativas de suicídio.

Cotard tinha consciência de que casos parecidos haviam sido descritos por vários psiquiatras, dentre eles Jean-Étienne Dominique Esquirol (1772-1840). O diagnóstico que Cotard fez da sua paciente é de que ela apresentava o que então era conhecido por lipemania (categoria proposta por Esquirol para definir um episódio de depressão psicótica). Cotard admitia que o delírio hipocondríaco resultava de “uma interpretação da sensação patológica geralmente presente em pacientes com melancolia ansiosa”. Ele sugeriu ainda que uma forma similar de delírio deve ter contribuído para propagar a crença na chamada demoniomania.

Cotard estava convencido de que havia encontrado um novo tipo de lipemania, cujas principais características seriam melancolia ansiosa, idéias de danação ou possessão, comportamento suicida, insensibilidade para a dor, delírios de imortalidade e de não-existência envolvendo a pessoa como um todo ou partes do corpo.

Dois anos depois de expor o caso da paciente aos colegas da sociedade francesa, Cotard retornou ao tema e introduziu o termo delírio de negação – nihilistic delusions, em inglês. Inúmeras causas foram posteriormente arroladas como responsáveis pela síndrome. Dentre elas, doenças cerebrais degenerativas, atrofias localizadas ou generalizadas, traumas de crânio, sendo atribuído papel especial às lesões nos lobos parietais. No entanto, as explicações definitivas para o mecanismo fisiopatológico dessa síndrome permanecem obscuras.

PARECE MAS NÃO É
O médico Anthony Joseph e seus colaboradores do departamento de psiquiatria do Hospital McLean e do centro de Saúde Mental de Massachusetts, bem como seus colegas do departamento de radiologia do New England Deaconess Hospital, em Boston, examinaram com tomografia computadorizada oito pacientes com a síndrome de Cotard, dos quais três eram esquizofrênicos, três tinham uma forma grave de depressão e dois sofriam de transtorno bipolar. Todos apresentaram algum tipo de alteração na tomografia cerebral. Os achados mais proeminentes foram as atrofias que afetam mais os lobos frontais e temporais do que os parietais e occipitais. Embora dessas conclusões tenham surgido evidências de organicidade na origem dos sintomas, ainda reina uma considerável incerteza sobre o fenômeno.

Com a cautela peculiar perante toda hipótese científica, o neurocientista Vilayanur Ramachandran propõe uma teoria com uma lógica interna surpreendente, quase imperiosa, que pode lançar um pouco de luz sobre a nossa compreensão do fenômeno. Segundo o pesquisador, a hipótese é similar à explicação que ele próprio aventou para a síndrome de Capgras. Nesta, mais comum, porém não menos estranha, os pacientes se tornam absolutamente convencidos de que pessoas próximas (filhos, cônjuge, amigos etc.) foram substituídas por impostores. “Ela é, em tudo, parecida com minha mulher, mas não é minha mulher.” O delírio, em alguns casos, diz respeito a ambientes, lugares. O paciente se encontra na casa onde passou toda a sua vida e diz: “Esta não é a minha casa, embora se pareça com ela”.



Lembro-me de um paciente que visitei em casa a pedido da família, aterrorizada com a alegação que ele fazia de que não estava em sua própria casa e que aquela que se dizia sua mulher (e com a qual convivera durante quase 50 anos) era uma impostora. Perguntei-lhe se reconhecia os móveis no quarto onde estava acamado. Respondeu-me com veemência: “É claro que reconheço!”. Apontei-lhe um quadro na parede, depois um livro que retirei da estante. Ele não vacilou um segundo sequer: “Reconheço, é exatamente igual ao que tenho em minha casa. Mas esta não é a minha casa”. Quando lhe perguntei se poderia explicar o fato, respondeu: “Só pode ser um complô que aprontaram contra mim”.

Ramachandran admite que as lesões cerebrais subjacentes a essas duas síndromes provocam desconexão entre áreas corticais responsáveis pelo reconhecimento facial e o sistema límbico, principal modulador da emoção. De acordo com essa hipótese, os pacientes com síndrome de Capgras não conseguem associar emoção à visualização de um rosto ou lugar – e tendem a negá-los. “Parece-se com ele, mas não é ele” é a expressão comumente ouvida quando se trata de Capgras.

O pesquisador Russel Bauer, da Universidade da Flórida, propôs que há duas vias para o reconhecimento de faces. A principal vai do córtex visual para o lobo temporal, passando através do fascículo longitudinal inferior, a chamada via ventral, que corresponde ao sistema responsável pelo reconhecimento consciente. A outra, chamada via dorsal, carreia estímulos entre o córtex visual e o sistema límbico pelo lobo parietal inferior. Essa via confere significado emocional à face; é por isso que, quando a via ventral é seletivamente danificada, o paciente pode reconhecer determinado rosto num nível inconsciente. Na lesão seletiva da via dorsal, o paciente não consegue associar emoção à imagem visualizada, explicando dessa forma a espantosa manifestação clínica dos portadores da síndrome de Capgras.

Para Ramachandran, na síndrome de Cotard, a desconexão tem dimensão mais abrangente. Em vez de ocorrer apenas a desconexão das áreas visuais que se tornariam isoladas dos centros cerebrais da emoção, todos os sentidos ficariam desconectados dessas áreas. Uma vez ocorrida a desconexão entre essas regiões, a única forma de o paciente interpretar seu completo isolamento emocional é acreditar que está morto.

Uma forma mínima da síndrome de Cotard, bem mais freqüente na prática clínica, é o transtorno conhecido por desrealização ou despersonalização. Tais sensações, na maioria das vezes fugazes, costumam aparecer durante episódios de ansiedade aguda e intensa, ataques de pânico e depressão. Nessas situações, subitamente, o mundo parece completamente irreal, semelhante a um sonho. Nas palavras de Ramachandran, “o paciente se sente como um zumbi”. Pessoas com foco epilético no lobo temporal podem apresentar sensações semelhantes - – são os chamados “estados de sonho”.

A mente – por mais complexa e poderosa que seja – é apenas um produto do cérebro. Essa é uma afirmativa que permeia todo o conhecimento científico contemporâneo e foi expressa pela primeira vez por Charles Darwin (1809-1882), em meados do século XIX. Se não pudemos ainda desvendar a assombrosa complexidade dos neurônios, o que dizer dos processos que levam a falhas de comunicação entre eles? Ainda não sabemos com precisão tudo o que resulta dessas incorreções, mas nada nos impede de admirar sua grandiosidade. O espanto nos domina quando ouvimos o paciente com a síndrome de Cotard falar dos seus delírios de imortalidade. Talvez porque, no fundo, tenhamos uma ponta de inveja dissimulada. Quantos de nós, ainda hoje, como Fausto, o personagem criado pelo escritor Johann Wolfgang von Goethe, não selaríamos de bom grado um pacto com o diabo, em troca da vida eterna?


PARA CONHECER MAIS



O homem que fazia chover e outras histórias inventadas pela mente. Edson Amâncio. Editora Barcarolla, 2006.


Fonte: http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/o_pacto_com_o__diabo_e_a_vida_eterna.html

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Cientista identifica genes que tornam as pessoas 'preguiçosas' .



Cientistas descobriram genes ligado à produção de energia que pode explicar porque algumas pessoas cansam rapidamente enquanto outras parecem ter uma energia inesgotável. Os pesquisadores identificaram os genes que produzem, nos músculos, uma enzima que controla a maneira como os alimentos são transformados em energia. As informações são do jornal britânico Daily Mail. A enzima AMPK é produzida durante o exercício físico e, quanto maior a quantidade gerada, maior o nível de energia. O coordenador do estudo, Gregory Steinberg, disse que a descoberta pode levar à criação de tratamentos para aqueles que têm dificuldade em se exercitar, incluindo obesos e asmáticos. Os pesquisadores criaram camundongos sem o conjunto de genes e registraram que os animais não conseguiam caminhar por mais de 40 min, enquanto os camundongos normais chegavam a correr 1 km em 20 min.Eles acreditam que o efeito em humanos deve ser similar. É a primeira vez que a enzima AMPK é conectada a um conjunto de genes. O estudo foi publicado no jornal Proceedings of the National Academy of Sciences. O coordenador ressalta que eles também concluíram que, mesmo em pessoas sedentárias, a produção da enzima pode ser estimulada com exercício físico, o processo é apenas mais difícil e demorado.

Fonte: http://neurocurso.com/neuronews/1287-cientista-identifica-genes-que-tornam-as-pessoas-'preguicosas'.html

O valor simbólico do alimento.



Mais que nutrir, comer e beber são formas de interação social; as refeições estão vinculadas a percepções primordiais de amor e aceitação.
Há muito se sabe que comer não é apenas um modo de se manter vivo e aplacar a fome, mas também um meio de comunicação e forma de obter prazer. Muitos conflitos emocionais, porém, revelam-se na forma de sintomas vinculados aos hábitos alimentares. Experiências da infância associadas à alimentação costumam deixar fortes marcas, tanto que a maior parte das pessoas fica ligada a sabores e alimentos aos quais foi habituada.

Além disso, os ritos à mesa favorecem a coesão social e por isso mesmo as diferenças culturais são tão evidentes e significativas nesse campo. É difícil encontrar, por exemplo, um italiano que queira comer pasticcio de rim, um prato comum entre os ingleses. Já os chineses são loucos por pés de frango, a parte da ave menos valorizada pelos brasileiros. Para os americanos, os mexilhões são moluscos repugnantes. Essas e outras preferências são resultado de aprendizagens precoces embasadas na imitação. A primeira fonte de informação é a família, mas assim que vão para a escola as crianças começam também a observar como os colegas se alimentam. Agir como os outros – comer e beber como eles – significa integrar-se ao grupo – empenhar-se para não ser excluído.

Já nas primeiras horas de vida o mundo entra pela boca. Junto com o leite, o bebê recebe o calor, o toque e o cheiro de quem o alimenta. Sente, ainda que de forma sutil, a presença – ou a falta – do afeto. E, depois das primeiras mamadas, a fome jamais será apenas de alimento. Ao longo da existência, as relações continuam permeadas pelos significados simbólicos que a comida assume na vida de cada um. A criança, por exemplo, sabe, mesmo que intuitivamente, que o alimento é um ponto delicado, é capaz de perceber o valor que o pai e a mãe dão às refeições. Assim, recusá-las é um modo de exercitar a chantagem afetiva. As técnicas usadas pelas crianças são conhecidas: há quem não toque na comida; quem a segure na boca por muito tempo cuspindo-a depois; quem só coma fora dos horários das refeições.

No entanto, nem sempre a iniciativa parte dos pequenos. Às vezes os pais insistem para que as crianças comam alimentos de que não gostam, não levando em consideração que os gostos na infância são diferentes dos que se estabelecem mais tarde. Ou então as estimulam a comer mais que o necessário, o que favorece a confusão entre alimento, prazer e afeto.

A equação alimento = amor e aceitação está tão consolidada que, quando os filhos não comem muito, certos pais sentem-se culpados por achar que não estão cumprindo seu papel. Preocupam-se quando percebem que a criança come menos, sem considerar que o processo de desenvolvimento não mantém sempre o mesmo ritmo: há momentos de crescimento intenso – como os dois primeiros anos de vida ou o início da adolescência – e há também fases mais atenuadas, em que a necessidade de alimento é menor. Se a criança ou o adolescente são saudáveis, deveriam ser capazes de autorregular-se com base nos sinais de fome e saciedade que vêm do organismo.

Se forem muito estimulados, poderão enjoar da comida, tornar-se resistentes aos sinais do estômago ou comer mais que o necessário e entrar na espiral da polifagia ou da bulimia. Nesse caso, o risco consiste em associar as sensações de estômago e intestino estufados à condição psicológica de saciedade e bem-estar. Sob o estímulo de um reflexo condicionado, comer em excesso pode se transformar em uma maneira rápida, imatura e inconsciente de buscar consolo, de enfrentar frustrações e decepções, de combater o tédio ou de preencher um vazio afetivo, com todas as consequências que isso acarreta para o próprio desenvolvimento físico e psicológico.

Fonte: http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/o_valor_simbolico_do_alimento.html

Do Túnel do Tempo: Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1905.

Heinrich Hermann Robert Koch (1843 - 1910)



Bacteriologista alemão nascido em Clausthal, hoje Clausthal-Zellerfeld, Alemanha, um dos maiores bacteriologistas de todos os tempos e famoso por ser o descobridor do bacilo da tuberculose, do vibrião do cólera e da origem da doença do sono, o que lhe valeu o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina (1905). Entrou para a Universidade de Göttingen (1862), onde ele estudou botânica, física e matemática e onde iniciou sua vitoriosa carreira em bacteriologia, isolando várias bactérias causadoras de doenças e seus vetores animais, incluindo a tuberculose, formando-se em medicina (1866). Após um breve período no Hospital Geral de Hamburgo e em um instituto para crianças retardadas, trabalhou como médico rural e, durante a guerra franco-prussiana, foi cirurgião. Passou a se dedicar a pesquisas particulares, inicialmente em arqueologia e antropologia e, na medicina, no campo de doenças causadas por envenenamentos, a partir de onde entrou para o campo da emergente bacteriologia (anos 1870), influenciado pelas conclusões dos pesquisadores Friedrich Henle e Casimir Davaine tinham descoberto (anos 1840) que algumas doenças eram provocadas por organismos microscópicos. Primeiro descobriu o bacilo do antraz ou carbúnculo, o Bacillus anthracis, demonstrou a formação de esporos nos seus bacilos e inventou um método de cultivo e isolamento de bactérias (1876). Dois anos depois (1878) o iodo começou a ser usado como anti-séptico. Após completar um importante trabalho em bacteriologia de feridas infeccionadas, foi nomeado pelo governo conselheiro do Departamento Imperial de Saúde, em Berlim (1880), onde passou a desenvolver suas pesquisas pelo resto de sua carreira. Publicou, então, seus estudos sobre a tuberculose (1881) e logo depois anunciou o isolamento do bacilo causador da doença (1882), que passou a ser chamado bacilo de Koch. A seguir (1883) esteve em missão oficial no Egito e Índia, a fim de estudar a etiologia da cólera, conseguindo no ano seguinte provar que o agente da moléstia era o Vibrio comma. A Universidade de Berlim, criou a cátedra de Higiene (1885) para ele e lá se criou o Instituto de Doenças Infecciosas (1891), especialmente dedicado à pesquisas sobre tuberculose, lepra, cólera, malária e das bactérias anaeróbias. Na década seguinte, o cientista dedicou-se a pesquisar várias doenças humanas e animais, como a hanseníase, a peste bovina, a peste bubônica e a malária e morreu em Baden-Baden, Alemanha. Na época, desconhecia-se o mecanismo de contágio da malária, mas ele estava quase convencido de que o mosquito era o agente transmissor da doença. Considerado, junto com Pasteur, o criador da Bacteriologia Médica, deve-se a este cientista às principais técnicas dos estudos da bacteriologia, formando, na sua época, uma geração de pesquisadores, entre os quais Paul Ehrlich, que descobriu o primeiro remédio contra a sífilis.

Fontes: http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/RoberKoc.html

Homossexualidade.



Do pecado à legalização da união civil. Veja como a orientação sexual foi abordada ao longo do tempo.
A maneira de conviver com a homossexualidade modificou-se ao longo dos anos. Comportamentos vistos como absolutamente normais na Antiguidade foram rotulados de degenerados no século 19. E só recentemente essa expressão da sexualidade deixou de ser considerada uma doença mental. Na edição de 1968 do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM), obra de referência para psiquiatras, a atração por pessoas do mesmo sexo aparecia no capítulo sobre desvios, classificada como um tipo de aberração.

Foram os próprios gays que, cansados de ser taxados de aberrações, começaram a defender a ideia de que sua orientação não era patológica. Um momento histórico na transformação dessa forma de pensar ocorreu após uma violenta ação policial no Stonewall Inn, bar gay no Greenwich Village, em Nova York, em 28 de junho de 1969. Nos cinco dias seguintes, uma multidão continuou a se reunir no local, protestando contra a discriminação e exigindo direitos iguais para homossexuais. Conhecido como rebelião de Stonewall, o evento é considerado a marca inicial para a maior aceitação cultural da homossexualidade no mundo todo.

Quatro anos mais tarde, a Associação Americana de Psiquiatria (AAP) começou a reavaliar essa questão. Uma comissão liderada pelo médico Robert L. Spitzer, da Universidade de Colúmbia, recomendou que o termo “homossexualidade” fosse retirado da edição seguinte do DSM, mas a sugestão não surtiu efeitos práticos. Pouco depois de os dirigentes da AAP votarem a favor da alteração, 37% dos psiquiatras consultados sobre o tema disseram ser contrários à mudança. Alguns chegaram a acusar a associação de “sacrificar princípios científicos em nome dos direitos civis”.

Nos anos 90, grande parte dos psicólogos ainda argumentava que a homossexualidade era um distúrbio psíquico. Para defender esse ponto de vista, muitos se apoiavam na penúltima edição da Classificação internacional de doenças (CID-9), de 1985, que considerava essa orientação formalmente patológica. Atualmente, porém, os conselhos regionais de psicologia (CRPs) são claros em orientar os profissionais da área para que não tratem a homossexualidade como distúrbio, a manifestação de preconceitos pode deflagrar processos e punições.

O preconceito em relação à homossexualidade muitas vezes é dissimulado e, apesar das transformações culturais, em certos meios persiste a ideia de que essa orientação é uma doença que precisa ser “curada”. Alguns defensores de terapias que se propõem a isso buscam respaldo na teoria de Sigmund Freud (1856-1939), cujas palavras foram tantas vezes descontextualizadas e interpretadas de maneira tendenciosa. As formulações do autor passaram por diferentes momentos e sofreram acréscimos significativos ao longo de sua obra, o que permite variadas interpretações, dependendo do texto que for tomado como referência. Em artigo de 1930 no qual discute o caso de uma moça que se apaixona por uma jovem senhora da sociedade, por exemplo, Freud considera que, quando uma mulher escolhe outra como objeto de amor, revela uma fixação infantil – não necessariamente decepção com o pai.

Fixações, entretanto, não são exclusividade dos homossexuais – nem podemos procurar “culpados” por elas. As diferentes preferências – e consequentes escolhas ou negações – revelam singularidades e fatores inconscientes de cada pessoa.

Fonte: http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/homossexualidadedoencahomossexualismo.html

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Sob o encanto da Lua.

Em diferentes culturas, variações do comportamento humano foram atribuídas às fases lunares; para pesquisadores, a teoria pode ser considerada um “fóssil cultural”



“Ela aproxima-se mais da Terra agora do que de hábito e deixa os homens loucos.”
Otelo, de William Shakespeare

Ao longo dos séculos, muitos já disseram: “Deve ser noite de lua cheia”, numa tentativa de explicar acontecimentos estranhos. E até hoje, o nome da deusa romana da Lua continua sendo familiar: Luna, prefixo da palavra lunático (um dos sinônimos para louco). O filósofo grego Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) e o historiador romano Plínio (23 – 79 d.C.), o Velho, sugeriram que o cérebro era o órgão mais úmido do corpo e, desse modo, mais suscetível às influências perniciosas da Lua, responsável também pelas marés. A crença no efeito lunar persistiu na Europa durante a Idade Média, se acreditava que alguns seres humanos se transformavam em lobisomens ou vampiros durante madrugadas de lua cheia.

Ainda hoje, muitas pessoas acreditam que os poderes místicos do satélite da Terra induzem comportamentos erráticos, surtos psicóticos e suicídios; crêem que, por deflagrar a agressividade, fazem aumentar o número de homicídios, de acidentes de trânsito, de violência por parte de torcedores e jogadores profissionais durante as partidas e até de mordidas de cachorro. Um levantamento realizado nos Estados Unidos revelou que 45% dos estudantes universitários acreditavam que as pessoas afetadas pela Lua são propensas a comportamentos estranhos. Outras pesquisas sugerem que profissionais que trabalham com saúde mental podem estar mais inclinados do que as pessoas em geral a aceitar essa ideia. Em 2007, diversos departamentos de polícia do Reino Unido aumentaram o número de policiais em noites de lua cheia, num esforço para lidar com índices de criminalidade presumidamente mais altos.

Seguindo Aristóteles e Plínio, o Velho, alguns autores contemporâneos, como o psiquiatra Arnold Lieber, de Miami, presumiram que os efeitos comportamentais da Lua cheia ocorreriam por influência lunar na água. O corpo humano, ao todo, é composto de cerca de 80% de líquido e, deste modo, a Lua pode agir, de maneira misteriosa, alterando o alinhamento das moléculas do sistema nervoso central.

Mas, por pelo menos três motivos, essa teoria pode “ir por água abaixo”. Primeiro, os efeitos gravitacionais da Lua são muito pequenos para causar qualquer alteração significativa na atividade cerebral, que dirá, então, no comportamento. Como notou o astrônomo George Abell, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, um mosquito pousado em nosso braço exerce uma força gravitacional mais potente do que o satélite. Em segundo lugar, a força gravitacional da Lua afeta apenas corpos de água abertos, como oceanos e lagos, mas não fontes contidas, como o cérebro humano. E, por último, o efeito gravitacional é tão forte durante a lua nova – quando ela é invisível para nós – quanto durante a fase cheia (quando se acredita que seu poder místico esteja mais intenso).



E, ainda, o problema mais grave para os crentes fervorosos no efeito lunar: não há nenhuma evidência de que ele exista. O psicólogo James Rotton, da Universidade Internacional da Flórida, o psicólogo Ivan W. Kelly, da Universidade de Saskatchewan, e o astrônomo Roger Culver pesquisaram ampla e profundamente a existência de efeitos comportamentais consistentes causados pela lua cheia. Em todos os casos, eles saíram de mãos vazias. Esses pesquisadores combinaram resultados de múltiplas investigações, tratando-os como um único grande estudo – procedimento estatístico chamado meta-análise – e descobriram que a lua cheia não tem correlação alguma com eventos hostis, incluindo crimes, suicídios, problemas psiquiátricos e aumento das chamadas dos serviços de emergência. No artigo “Muito tumulto por causa da lua cheia”, publicado no periódico Boletim de Psicologia, Rotton e Kelly, com bom humor, deram adeus às pesquisas sobre o efeito da lua cheia e concluíram que não eram necessários estudos mais profundos.

Críticos persistentes, porém, discordam dessa conclusão e apontam algumas descobertas positivas que surgiram em estudos dispersos. Ainda assim, um punhado de pesquisas, que parecem apoiar a existência desse efeito, não se sustenta após uma investigação mais detalhada. Em um trabalho publicado em 1982, um time de autores relatou que acidentes de trânsito eram mais freqüentes nos períodos de lua cheia. Mas um erro fatal estragou essa descoberta: no período estudado, as luas cheias foram mais comuns em finais de semana, quando pessoas dirigem mais e, não raro, também se excedem no consumo de álcool. Quando os autores retomaram a análise dos dados, eliminando esse fator, o “efeito lunar” desapareceu.

Mas fica uma questão: se a influência da Lua é meramente uma lenda psicológica e astronômica, por que é tão disseminada? Existem diversas razões prováveis. A cobertura da mídia, quase certamente, tem papel importante. Os filmes de Hollywood mostram noites de lua cheia como um pico de ocorrências assustadoras: esfaqueamentos, tiroteios e comportamentos psicóticos.

Talvez mais importante: um estudo mostra um fenômeno, que os pesquisadores Loren e Jean Chapman, da Universidade de Wisconsin-Madison, chamaram de correlação ilusória: a percepção de uma associação que, de fato, não existe. Por exemplo, muitas pessoas com dores nas articulações afirmam que seu incômodo aumenta quando o tempo está chuvoso, embora pesquisas desmintam essas afirmações. Muito parecidas com miragens de água vistas em estradas durante os dias quentes de verão, essa impressão equivocada pode nos enganar e nos fazer perceber um fenômeno, mesmo na sua ausência. Ela resulta, em parte, da propensão de nossas mentes para prestar atenção – e lembrar – da presença de eventos, mais do que de sua falta (é mais comum nos recordarmos de quando tivemos dor do que de quando não tivemos).



Quando há lua cheia e algo inusitado ocorre, normalmente notamos, falamos para os outros e relembramos o fato. Fazemos isso porque tais ocorrências se encaixam em nossas pré-concepções. Um estudo já mostrou, por exemplo, que, de fato, enfermeiras psiquiátricas que acreditam no efeito lunar sobre os pacientes escreveram mais notas acerca do comportamento peculiar dos internos do que aquelas que não creem. Em contrapartida, quando há lua cheia e nada estranho ocorre, o “não evento” escapa da memória. Como resultado da lembrança seletiva, percebemos erroneamente uma vinculação entre as fases lunares e uma miríade de eventos bizarros.

Ainda, a explicação da correlação ilusória, embora seja uma parte crucial do quebra-cabeça, não indica como essa noção da lua cheia começou. Uma ideia intrigante de sua origem chegou até nós por meio de uma cortesia do psiquiatra C. L. Raison, agora na Universidade de Emory, e de vários colegas seus. De acordo com o pesquisador, o efeito lunar pode ter uma pequena semente de verdade, por, algum dia, ter sido genuíno. Ele supõe que antes do advento moderno da iluminação exterior, a claridade da lua cheia privava do sono as pessoas que viviam nas ruas – incluindo doentes mentais. A insônia, frequentemente, funciona como gatilho para a desorganização psíquica de pessoas com algum distúrbio, como transtorno bipolar. Sendo assim, a lua cheia pode ter sido ligada, há muito tempo, aos comportamentos extremados. Segundo Raison, esse efeito seria uma espécie de “fóssil cultural”. Talvez nunca saibamos se a engenhosa explicação está correta. Mas, pelo menos no mundo de hoje, esse efeito parece não ser mais confirmado do que a ideia de que a Lua é feita de queijo.

Fonte: http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/sob_o_encanto_da_lua.html

Um salão de recordações que você mesmo constrói.

Técnicas usadas na Grécia antiga ajudam até hoje a conquistar prêmios, mas também são úteis para recordar os itens de uma lista de compras.



O prato principal do elegante jantar estava sendo servido no enorme salão grego quando o teto abobadado veio abaixo, esmagando todos os convidados. Apenas o poeta Simônides, que havia saído pouco antes da tragédia, sobreviveu. Nos dias seguintes, trabalhadores que retiravam os pesados escombros chegaram à conclusão de que seria impossível identificar as vítimas, terrivelmente desfiguradas. Simônides foi de grande ajuda. Revendo mentalmente toda a extensão da longa mesa, descobriu que podia reconstituir, pela disposição dos assentos, o local em que cada um se sentara. E assim, com base nos lugares onde os corpos foram encontrados, indicou os mortos, um por um.

Quatrocentos anos depois, o político, escritor e orador romano Marco Túlio Cícero (106-43 a.C.) relatou a história de Simônides em um de seus manuais sobre aprendizado e memória. Cícero escreveu que, de acordo com a lenda, o desmoronamento do teto motivou o poeta a desenvolver uma técnica de memória visual que perdurava quatro séculos depois e era amplamente usada pelos políticos e advogados do Império Romano. Esses profissionais eram olhados com desprezo se não conseguissem memorizar os longos discursos que faziam com freqüência; para eles era importante descrever os complexos meandros de uma argumentação e emocionar a audiência.

Os recursos mnemônicos que Simônides descobriu mostraram ser artifícios poderosos. Cícero deixou bem clara a lição em seu livro: a memória fica muito bem servida quando uma lista de nomes, objetos ou idéias é disposta visualmente. Muitas pessoas que exibem extraordinária capacidade de recordar usam essa técnica e, entre elas, estão vencedores de campeonatos mundiais de memória. Embora o método pareça estranho a princípio, qualquer um pode usá-lo para se lembrar com mais facilidade tanto de uma lista de compras quanto de rascunhos de palestras. Uma vez que se encontre um modo de “ver” os itens é só usar o “truque”. A maioria dos livros que ensinam práticas para melhorar a memória ou a acuidade mental sugere esse método e se vale de estratégias modernas que partem da abordagem antiga.

ALMOFADAS DE SABÃO
O recurso mnemônico, conhecido como “método dos locais”, consiste em colocar imagens mentais de diferentes itens em vários locais de uma sala que se conheça bem, numa ordem específica. A pessoa pode “caminhar” mentalmente pelo ambiente e visualizar os objetos que deseja relembrar, “deixando-os” um em cada ponto daquele ambiente. Cada um costuma desenvolver seu próprio sistema de localização. Na Antigüidade, os professores recomendavam usar lugares públicos, como os templos, como “canteiros” para treinamento da memória espacial. Como se estivesse dentro do edifício, o sujeito deveria memorizar a posição de cada coluna e estátua, a começar pela entrada principal, passando ao longo da parede à sua direita, voltar pela parede à esquerda e assim por diante. Cada item da lista seria então relacionado a uma coluna, estátua ou outro detalhe, seguindo determinada ordem. Mais tarde, a pessoa visualizaria a sala para encontrar cada objeto.

Hoje, a própria casa costuma ser a melhor escolha para esse tipo de exercício. Para começar, é preciso definir uma rota específica através de cada cômodo da residência e colocar em ordem os objetos. Por exemplo, num certo apartamento há um hall de entrada, onde estão uma mesinha, um espelho, um porta-chaves na parede, tapete e a porta do armário embutido. A seguir, fica a sala de estar, com sofá, talvez um aparelho de ar-condicionado, televisão e lustre. É importante obedecer sempre à mesma seqüência, a fim de gravar na mente um sistema fixo de localização, que pode representar itens-padrão como cartas de baralho ou ainda ser ampliado para permitir novos acréscimos sempre que nova lista for necessária.

Digamos que você vá ao supermercado e tenha nove produtos para comprar: ovos, queijo, macarrão, peixe, pão, sabão, manteiga, salame e cereais. Imagine três ambientes em sua casa, cada um deles com três itens da lista. Você entra no vestíbulo e pendura a chave no chaveiro em forma de um pão. Anda sobre o tapete, mas ele é feito de fatias de salame; olha em um espelho e em sua superfície estão grudados dois ovos fritos. Na sala de estar, o televisor virou um aquário, no qual nada um peixe grande. Você olha na direção do aquecedor, em cima do qual está uma barra de manteiga, derretendo, que pinga no sofá, cujas almofadas são feitas de barras de sabão. No quarto onde está o computador você vê um ratinho, sobre o teclado, mordiscando um pedaço de queijo. Na prateleira em cima há uma caixa de cereais e o varal no alto da janela sustenta cortinas feitas com fios de macarrão entrelaçados.

Cada “estação” – como o espelho e o sofá – está agora relacionada a um determinado item. Se a lista da semana que vem contiver barras de chocolate mas não cereais, então a prateleira será feita de chocolate. Dessa maneira, você pode lembrar várias listas de compras, com itens que você compra sempre, como ovos, aparecendo regularmente, e itens ocasionais – como barras de chocolate – esporadicamente.

Uma vez que você tenha trabalha do com uma seqüência estabelecida por algum tempo – digamos, dez localizações em cada uma das três salas –, é possível acrescentar mais ambientes, o que faz aumentar a capacidade de armazenamento de memória. Mas é preciso treinar com afinco para a estratégia funcionar. “Sem a prática constante, as regras serão praticamente inúteis. Certifique-se de que terá tantas localizações disponíveis quanto possível. A inserção de imagens precisa ser praticada diariamente”, informa um anônimo livro romano de retórica Ad Herennium. Alunos aplicados da disciplina conseguem acumular um incrível número de localizações.

Nas atuais competições de memória os participantes chegam a memorizar mais de mil números em seqüência ou cartas de jogo embaralhadas ao acaso em múltiplos maços. Alguns indivíduos conseguem repetir um longo poema inteirinho depois de ouvi-lo apenas uma vez – e até recitá-lo com os versos em ordem contrária.

A chave para o sucesso nesse tipo de técnica é a familiaridade que o praticante tem com o sistema de localização e isso precisa permanecer imutável. Por isso a prática tem tanta importância. Igualmente, a compilação de itens de uma lista precisa ser feita de maneiras criativas, com o uso de imagens que chamem a atenção ou que sejam extravagantes – como ovos no espelho ou um sofá com almofadas de sabão. A obra Ad Herennium explica isso em termos simples e lógicos: quando “vemos ou ouvimos algo estranho, que fuja do convencional, inacreditável ou ridículo, provavelmente pensaremos nisso por muito tempo e com mais insistência do que dedicamos a fatos corriqueiros”. Sóis nascentes e crepúsculos são freqüentes, mas um eclipse solar não é candidato ao esquecimento. Daí a importância de escolher imagens que produzam ressonância emocional.



É assim que os campeões de memóriatrabalham. Eles usam outros truques aos quais qualquer pessoa também pode recorrer. Por exemplo, palavras-lembranças são valiosas quando alguém nos é apresentado. Joana vira “banana”, Tony vira “pônei”, e Amanda, “panda”. Também é possível usar a memória para relacionar nomes com coisas em determinado contexto: você pode lembrar como se chamam os novos vizinhos, Alexandre e Serena, respectivamente, associando-os a telefone (de Alexander Graham Bell, seu inventor) e raquete de tênis (Serena Williams, campeã do esporte). Com a prática, não é difícil construir os próprios mapas visuais em amplos graus. Um antecessor dos campeões de memória de hoje foi Pedro de Ravena, jurista do fim da Idade Média e autor de um manual em latim sobre estratégias de memória. Ele viajava muito pela Itália e, quando chegava a alguma cidade, visitava igrejas e mosteiros e memorava a planta dessas construções. Com o tempo ele construiu uma impressionante coleção de espaços relembrados – mais de 100 mil localizações. Não é possível afirmar com certeza se esse número era verdadeiro ou não; mas ele recitava em público livros inteiros de Direito com comentários, inúmeras passagens da Bíblia e ainda centenas de citações clássicas. Em face dessas proezas, não há por que imaginar que o resto da humanidade – ou seja, todos nós – não seja capaz de memorizar tranqüilamente a lista do supermercado.

ATLETAS DA MENTE
Entre os dias 19 e 21 de agosto deste ano, pela primeira vez, três brasileiros participarão do Campeonato Mundial de Memória, em Londres: Ricardo Kossatz, Eduardo Costa e Alberto Medeiros. Eles devem cumprir dez provas e esperam, além de vencer, difundir técnicas de memorização.

O evento, realizado há 15 anos, é uma espécie de decatlo de disciplinas de memória. Num nos testes, os competidores têm de recitar com exatidão um poema ainda não publicado, sem rimas, linha por linha, incluindo toda a pontuação e a ortografia. Os competidores têm 15 minutos para decorá-lo e o dobro do tempo para reproduzi-lo. Outra prova exige a memorização de tantos dígitos binários quanto possível em meia hora (por exemplo, 010110100).

No exame de nomes e rostos, os atletas mentais recebem cem fotos de pessoas de várias nacionalidades, com a identificação embaixo de cada imagem. Os competidores têm 15 minutos para estudá-las. Em seguida, recebem de novo as mesmas fotos embaralhadas, sem nomes. Eles dispõem de meia hora para escrever nome e sobrenome correspondentes às fotos; cada acerto vale um ponto. Em 2004, o inglês Bem Pridmore, vencedor da competição, em Manchester, Estados Unidos, derrotou 22 pessoas de nove países. No mesmo concurso, o britânico Andi Bell venceu essa etapa, acertando 176 dos 200 nomes da lista.

Outra etapa importante do torneio é a prova de memorização de cartas de jogo. Os participantes recebem maços embaralhados e têm 60 minutos para memorizar quantas puderem, na ordem em que lhes foram dadas. O campeão Ben Pridmore recordou-se de 1.144 cartas – o equivalente a 22 baralhos completos. O campeonato internacional Memória é organizado pelo Conselho Mundial de Memória de Surrey, Inglaterra. Informações e testes de amostra estão disponíveis no site www.worldmemorychampionship.com para os interessados.

Colares e saltos altos
Por Andreas Krauss

Acostumado a competir em eventos mundiais da modalidade, o administrador de um internato em Meclemburgo, Alemanha, Steffen Bütow, toma seu próprio apartamento como referência espacial, utilizando a técnica desenvolvida pelos gregos na Antigüidade. Ele recorreu ao artifício na competição com baralho. Depois de memorizar um maço de cartas de jogo no menor tempo possível, ele deveria embaralhar um novo maço na mesma ordem em cinco minutos. Bütow examinou as lâminas, uma por uma, por apenas 46 segundos, bloqueou luz e ruídos com uma venda e um fone de ouvido para se concentrar e gravar a ordem em sua cabeça.

Como números e símbolos são abstratos demais para permanecer na memória, ele associou cada carta como um objeto, o que lhe permitiu criar uma espécie de apresentação de slides mentais com 52 imagens. A primeira carta era o 2 de espadas, que se tornou um cisne no guarda-roupa do quarto do administrador. A segunda, o 8 de ouro, virou um colar pendurado na luminária de sua cabeceira. O 7 de paus se transformou num chicote em seu travesseiro. A rainha de copas ele fixou como saltos altos debaixo da cama. Mas ele não estava apenas imaginando os objetos, tinha praticado durante horas na calma de seu apartamento, identificando as 52 cartas com 52 objetos. Sempre que recebe um maço recém-embaralhado, ele visualiza sempre a rainha de copas como saltos altos debaixo da cama; assim, a tarefa dele é visualizar a ordem correta de itens para reembaralhar um segundo maço da mesma maneira que o primeiro.

Para reordenar o maço, Bütow “passeia” por um conjunto de rotas que já percorreu centenas de vezes, do guarda-roupa à poltrona, passando pela escrivaninha e pela lâmpada de cabeceira, até a cama e a janela. Quanto mais imaginativas ou mais excêntricas as associações, tanto mais facilmente ele conseguirá reproduzir a ordem mais tarde; lembramos situações de maior carga emocional do que as neutras. Bütow conseguiu memorizar mais de 40 rotas diferentes, com mais de 2.500 paradas, o que lhe garantiu capacidade suficiente para muitos torneios de memória.

Durante competições, Bütow simplesmente imagina que está em casa, sentado à mesa em que treina de uma a duas horas cada noite, depois que seus filhos vão dormir, e “passeia” insistentemente por suas rotas e associações de cartas. Ele não tem dúvidas de que, para alguém se tornar bom memorizador é preciso, principalmente, trabalhar duro. Bütow diz que não conhece competidor algum naturalmente dotado de memória fotográfica.

ANDREAS KRAUSS é jornalista especializado em biologia e ciência em Berlim.

TESTE SUAS HABILIDADES

Pegue papel, lápis e cronômetro. Durante exatamente cinco minutos memorize os números na primeira lista. Em seguida, cubra a lista e escreva os números na ordem em que os memorizou. Faça o mesmo teste, no mesmo tempo, com a lista de palavras e de cartas de baralho. Se preferir, “espalhe” objetos e cartas pela casa, como faziam os gregos.



Fonte: http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/um_salao_de_recordacoes_que_voce_mesmo_constroi.html