domingo, 24 de junho de 2012

Você sabe o que é a Frenologia (cranioscopia)?

Frenologia é o estudo da estrutura do crânio de modo a determinar o carácter da pessoas e a sua capacidade mental. Esta pseudociencia baseia-se na falsa assunção de que as faculdades mentais estão localizadas em "orgãos" cerebrais na superficie deste que podem ser detectados por inspecção visual do crânio.




O fisico vienense Franz-Joseph Gall (1758-1828) afirmou existirem 26 "orgãos" na superficie do cérebro que afectam o contorno do crânio, incluindo um "orgão da morte" presente em assassinos. Gall era advogado do principio "use-o ou deixe-o". Os orgãos do cérebro que eram usados tornavam-se maiores e os não usados encolhiam, fazendo o crânio subir ou descer com o desenvolvimento do orgão. Estes altos e baixos reflectiam, de acordo com Gall, àreas especificas do cérebro que determinam as funções emocionais e intelectuais de uma pessoa. Gall chamou a este estudo "cranioscopia." Outros como Johann Kaspar Spurzheim (1776-1832) que espalhou a palavra na America e George Combe (1788-1858) que fundou a Edinburgh Phrenological Society, prosseguiram com ainda mais divisões e designações do cérebro e do crânio, como o "espirito metafisico" e "wit." Em 1815, Thomas Foster chamou ao trabalho de Gall e Spurzheim "frenologia" (phrenos é o termo grego para mente) e o nome pegou.

Os frenologistas avançaram a noção de que o cérebro humano é o lugar do carácter, percepção, emoção, intelecto, etc, e as diferentes partes do cérebro são responsáveis por diferentes funções mentais. Nisto estavam correctos. Contudo, como nesse tempo apenas era possivel o estudo do cérebro de mortos, os frenologistas apenas podiam associar as diferentes estruturas dos orgãos que suponham funções mentais que por sua vez eram associadas ao contorno do crânio. Pouco era feito para estudar o cérebro das pessoas com problemas neurológicos conhecidos, que podia ter ajudado no processo de localização das partes do cérebro responsável por especifico funcionamento neurológico. Em vez disso, a localização das faculdades mentais era seleccionada arbitrariamente. Os primeiros trabalhos de Gall foi com criminosos e doentes, o os seus "orgãos" refletem esse interesse. Spurzheim livrou-se de coisas como o "orgão do roubo" e o "orgão da morte", e mapeou o cérebro com áreas como "benevolencia" e "auto-estima."

Apesar da frenologia ter sido desacreditada e não tendo qualquer mérito cientifico, ainda tem defensores. Permaneceu popular, especialmente nos Estados Unidos, ao longo do século 19 e deu origem a outras caracterologias pseudocientificas como a craniometria e a antropometria. A frenologia foi defendida por Ralph Waldo Emerson, Horace Mann e a Boston Medical Society quando Spurzheim chegou em 1832 para The American Tour. Fowler Brothers e Samuel Wells publicaram American Phrenological Journal and Life Illustrated que durou de 1838 a 1911. Em Edinburgh, o jornal de Combe, Phrenological Journal, foi publicado entre 1823 e 1847. Outra indicação da popularidade da frenologia no século 19 é que o livro de Combe, The Constitution of Man vendeu mais de 300.000 cópias entre 1828 e 1868.

A frenologia originou a invenção do psicografo por Lavery and White, uma máquina que podia fazer uma leitura frenológica completa e imprimir o resultado. Afirma-se que esta máquina deu aos seus donos cerca de $200,000 na Exposição Mundial de Chicago em 1934. As leituras frenologicas não são diferentes das astrológicas e muitos que as fizeram, como Charlotte Brontë, ficaram satisfeitas com o resultado.




A Teoria por trás da Frenologia

Gall, em seu notável trabalho "A anatomia e Fisiologia do Sistema Nervoso em Geral e do Cérebro em Particular", colocou os princípios no qual ele baseava a sua doutrina de frenologia.

Primeiro, ele acreditava que as faculdades morais e intelectuais do homem são inatas e que sua manifestação depende da organização do cérebro, o qual ele considerava ser o órgão responsável por todas as propensões, sentimento e faculdades.

Segundo, Gall propôs que o cérebro é composto de muitos sub-órgãos particulares, cada um deles relacionado ou responsável por uma determinada faculdade mental. Ele propôs também que o desenvolvimento relativo das faculdades mentais em um indivíduo levaria a um crescimento ou desenvolvimento maior de sub-órgãos responsáveis por eles.

Finalmente, Gall propôs que a forma externa do crânio reflete a forma interna do cérebro e que o desenvolvimento relativo de seus órgãos causam mudanças na forma do crânio, que então poderia ser usadas para diagnosticar faculdades mentais particulares de um dado indivíduo, ao se fazer a análise adequada.




De fato, a teoria de Gall foi construída ao revés do que afirmamos acima. Ele primeiro realizou observações numerosas e cuidadosas e fez muitas medidas experimentais em crânios de seus parentes, amigos e estudantes. Posteriormente, com a ajuda de seus associados, ele fez a mesma coisa com muitas pessoas com diferentes caracteristicas de personalidade. Gall pensava que ele conseguia correlacionar certas faculdades mentais particulares a elevações e depressões na superfície do crânio, suas formas exteriores e dimensões relativas. Ele poderou então, sobre a possibilidade de que essas marcas externas poderiam ser causadas pelo crescimento de estruturas cerebrais internas e que este crescimento estaria relacionado ao desenvolvimento de faculdades mentais associadas. Assim, ele conseguiu produzir uma teoria completa e extensa para apoiar o seu trabalho e para usá-lo para aplicações práticas nas ciências mentais, por meio de mapas topológicos detalhados.

O colaborador mais importante de Gall foi Johann Spurzheim (1776-1832), que mais tarde o ajudou a ampliar o assim chamado modelo frenológico e disseminá-lo na Europa e EUA.


A antropometria é também um parente próximo da frenologia. No século XIX, um membro da Sureté (policia criminal francesa), chamado Eugene Vidocq, instituiu a documentação das características de criminosos para propósitos de identificação, a qual está em uso até hoje. Um de seus colaboradores, Alphonse Bertillion, expandiu o sistema de modo a tomar várias medidas dos corpos de criminosos, com o objetivo de identificá-los de forma inequívoca (lembrem-se que as impressões digitais eram desconhecidas naquele tempo). Entretanto, elas não foram usadas para a avaliação psicológica de criminosos

Esse tipo de avaliação não tardou a ser iniciado, graças a um italiano ambicioso e controvertido chamado Cesare Lombroso, que publicou um livro chamado "Antropologia Criminal" em 1895, e no qual ele associava determinadas características craniofaciais ao tipo de criminoso. Por exemplo, Lombroso achava que os assassinos tinham maxilas proeminentes, e que os batedores de carteira tinham mãos longilíneas e barbas ralas... Lombroso foi uma personalidade altamente influente nos sistemas judicial e policial da Itália e em muitos outros países. Ainda na década dos 30, muitos juízes ordenavam a realização de análises antropométricas "lombrosianas" dos réus em processos criminais, que posteriormente eram usados pela acusação em julgamentos !




Outro "parente" da frenologia foi a tipologia inventada no século 20 pelo psiquiatra alemão Ernst Kretschmer. Seu esquema para a classificação da personalidade era baseado no tipo físico (que era classificado em atlético, astênico e pícnico), e como eles eram correlacionados com caracteristicas psicoloógicas básicas. Em seu livro, "Físico e Caráacter"(1921), ele declarou que uma pessoa com um fisico delicado com maior probabilidade era um introvertido, enquanto que pessoas com baixa estatura e corpo arredondado tenderiam a ser temperamentais. No entanto, estas e outras teorias constitucionais da personalidade não foram validadas com o tempo.

Um uso infamante e bem conhecido da antropometria foi feito pelos antropólogos e médicos nazistas, os quais, no Departamento de Higiene Racial do Ministério do Interior e no Burô para o Esclarecimento da Política Populacional e Bem-Estar Racial, propuseram a classificação "científica" de arianos e não-arianos com base nas medidas quantitativas do crânio. A certificação craniométrica oficial tornou-se obrigatória por lei e era realizada por centenas de institutos e especialistas na Alemanha. Muitas pessoas foram condenadas aos campos de concentração ou tiveram negado o casamento ou o trabalho, em função desta "má medida do ser humano", como denominou o eminente biólogo e evolucionista americano Stephen Jay Gould a esse uso maciço e infeliz do conhecimento pseudocientífico para prejudicar pessoas.


Fontes: http://www.cerebromente.org.br/n01/frenolog/frenologia_port.htm
http://brazil.skepdic.com/frenologia.html
http://www.cerebromente.org.br/n01/frenolog/frenmod_port.htm

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